Foto: Ricardo Stuckert |
Não houve razão maior para que grande parte da direita brasileira para apoiar Jair Bolsonaro – ainda que mantendo dele distância, algo como um distanciamento ‘social’ de suas falanges e máscara antivociferações – que a certeza de que ele poderia cumprir duas tarefas: levar a extremos o desmonte de todas as regulações estatais sobre a economia e, ao mesmo tempo, levar ao extremo o enfraquecimento da esquerda, tirando-a da cena principal da política brasileira.
Sergio Moro e Paulo Guedes eram, por isso, os superministros incensados, os homens que iriam fazer, de verdade, o governo, ainda que montados no cavalo tosco do ex-capitão. Os militares dariam a isso o apoio, mas sem exageros que nos expusessem à pecha de autoritarismo.
Não é preciso gastar bytes para constatar o fiasco deste projeto, como aliás a qualquer outro que vise a manter o Brasil em condição de atraso nas massas e “modernidade” nas elites.
Mas é preciso refletir sobre o tamanho do desastre em que meteu-se o conservadorismo brasileiro.
Jair Bolsonaro exerceu sobre ele uma influência devastadora que o deixou, no horizonte visível, sem alternativa eleitoral.
Moro, Doria, Huck, Mandetta, neste momento, tornaram-se periferia eleitoral.
A tal ponto estão atônitos que seus próprios porta-vozes na mídia, claro que com apelações baratas e ressalvas fúteis, tiveram de se vergar à comparação vergonhosa entre o ex-presidente Lula e o atual ocupante do Planalto.
É improvável, porém, que isso vá se estender ao longo do ano e meio que faltam para as eleições.
Por enquanto vão apostar em que Lula caia na armadilha de supor que a direita vá anistiá-lo se for um cordeirinho branco, muito bem comportado.
Do outro lado, que Bolsonaro pendure uma máscara ao focinho e ponha um globo terrestre sobre a mesa de suas lives, para não parecer tão tosco e feroz quanto é.
E que, assim, não prospere o que é natural: a polarização entre selvageria e civilização que está posta.
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