Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:
A “reforma ministerial” de Jair Bolsonaro, que causou uma crise militar esta semana, foi a tentativa de fazer um movimento de autoproteção. Mas o presidente continua acuado e enfraquecido. “Ele blefou com os militares e tomou um contra-ataque”, diz Oswaldo Amaral, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para não descontentar ainda mais os comandantes (por exemplo desrespeitando o critério militar de antiguidade), o chefe do governo foi obrigado a aceitar um general que não era da sua preferência para comandar o Exército, Paulo Sérgio Nogueira. O militar teria perfil parecido ao de Edson Leal Pujol, o qual, por não controlar, o presidente queria, e conseguiu, ver fora do comando. Mas Bolsonaro “luta pra chegar até o fim do mandato”, avalia Amaral.
O movimento de Bolsonaro não envolveu apenas os militares. Além de ter cedido e demitido Ernesto Araújo do Itamaraty, pressionado por todos os lados, é sintomático que tenha trocado também os titulares do Ministério da Justiça e da Advocacia-Geral da União. André Mendonça sai da Justiça e retorna à AGU. E o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, delegado federal ligado à bancada da bala, foi para a Justiça. Com isso, Bolsonaro tenta se proteger num cenário em que o processo de impeachment já é possível.
Assim, ele tenta se articular mirando setores da Justiça, militares e políticos, e aqui leia-se Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e comandante do Centrão, que emplacou a deputada Flávia Arruda (PL-DF) na Secretaria de Governo. “Flávia só vai negociar com Bolsonaro o que Lira quer. Vai defender os interesses da base parlamentar do próprio Lira na negociação de emendas, num contexto em que o orçamento é caótico e o dinheiro é curto”, diz o professor. Não se pode esquecer que compete ao presidente da Câmara deflagrar um processo de impeachment.
Centro-direita
Apesar da catástrofe sanitária e da instabilidade política, ou mesmo devido a elas, as peças do tabuleiro da política nacional se movem, de olho em 2022. Na quarta-feira (31) à noite, um grupo de seis postulantes ao Palácio do Planalto divulgou uma carta em defesa da democracia e da Constituição. Ciro Gomes, João Amoêdo, os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta e o apresentador Luciano Huck assinam o documento.
O movimento dos seis se dá na esteira da crise político-militar provocada pelo presidente Jair Bolsonaro, com a demissão do agora ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O episódio elevou as tensões no país e, justificadamente, preocupou setores democráticos. O manifesto é também uma resposta à reentrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao cenário político, com o discurso de 10 de março.
Ciro, Amoêdo, Doria, Leite, Mandetta e Huck tentam ocupar o vácuo formado no centro e à direita no espectro político desde as eleições de 2018, quando a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) naufragou. A ideia do grupo é ocupar esse vácuo e mesmo parcelas da centro-esquerda. Visa a atrair o eleitorado que não gostaria de votar nem em Lula, nem em Bolsonaro. E também se insere no contexto da crise militar armada pelo presidente.
Contexto imprevisível
O grupo dos seis é bastante heterogêneo e está num contexto imprevisível. “É difícil imaginar que qualquer ação de agora vai ter efeito daqui a um ano e meio. A economia pode entrar em colapso profundo se as mortes pela covid continuarem aumentando. Tudo pode mudar”, pondera o analista da Unicamp. “Eles tentam sinalizar a tentativa de construir uma terceira via de centro-direita, para evitar a ida de Bolsonaro ao segundo turno. Embora, ideologicamente, Ciro esteja fora desse grupo, ele sinaliza que toparia compor. A ideia é atrair os eleitores arrependidos de Bolsonaro que não querem votar na esquerda.”
Já Lula, na opinião do analista, voltou com uma estratégia “bem feita”. “Ele acena ao centro e a ex-eleitores que já votaram nele na época da bonança econômica, mas que na última eleição votaram contra tudo e todos, no Bolsonaro. Esses não são eleitores ideológicos, mas majoritariamente de uma classe média baixa que ascendeu entre 2002 e 2010, principalmente, saiu da situação de pobreza e viu as coisas se complicarem a partir de 2015, 2016.”
O grupo dos seis é bastante heterogêneo e está num contexto imprevisível. “É difícil imaginar que qualquer ação de agora vai ter efeito daqui a um ano e meio. A economia pode entrar em colapso profundo se as mortes pela covid continuarem aumentando. Tudo pode mudar”, pondera o analista da Unicamp. “Eles tentam sinalizar a tentativa de construir uma terceira via de centro-direita, para evitar a ida de Bolsonaro ao segundo turno. Embora, ideologicamente, Ciro esteja fora desse grupo, ele sinaliza que toparia compor. A ideia é atrair os eleitores arrependidos de Bolsonaro que não querem votar na esquerda.”
Já Lula, na opinião do analista, voltou com uma estratégia “bem feita”. “Ele acena ao centro e a ex-eleitores que já votaram nele na época da bonança econômica, mas que na última eleição votaram contra tudo e todos, no Bolsonaro. Esses não são eleitores ideológicos, mas majoritariamente de uma classe média baixa que ascendeu entre 2002 e 2010, principalmente, saiu da situação de pobreza e viu as coisas se complicarem a partir de 2015, 2016.”
Sinalização para o diálogo
Parece implícito que o grupo “oficializado” na quarta-feira, se permanecer coeso, só terá chance se não “pulverizar” candidaturas. Dessa forma, os nomes com menos lastro para segurar uma candidatura precisariam renunciar a pretensões individuais por uma chapa capaz de disputar a ida ao segundo turno, com a promessa de integrar um eventual futuro governo. “Há muita divergência no grupo, mas ele representa uma sinalização para o diálogo. Aponta, senão a uma candidatura no segundo turno, pelo menos um acordo para viabilizar apoios.”
Amaral ressalva que essa é uma análise “em um mundo normal”. Mas o cenário de crise é muito volátil, e não se sabe nem mesmo se Bolsonaro vai chegar ao fim do mandato. Na semana passada, Arthur Lira fez um alerta ao presidente, falando em “remédios amargos” disponíveis no Congresso. O recado foi avaliado pelo cientista político Leonardo Barreto como um sinal de que a situação é cada vez mais difícil para Bolsonaro e um processo de impeachment já existe no horizonte. Com avaliação semelhante, o diretor do Diap Antônio Augusto de Queiroz afirmou que Bolsonaro nunca esteve tão perto do impeachment.
Parece implícito que o grupo “oficializado” na quarta-feira, se permanecer coeso, só terá chance se não “pulverizar” candidaturas. Dessa forma, os nomes com menos lastro para segurar uma candidatura precisariam renunciar a pretensões individuais por uma chapa capaz de disputar a ida ao segundo turno, com a promessa de integrar um eventual futuro governo. “Há muita divergência no grupo, mas ele representa uma sinalização para o diálogo. Aponta, senão a uma candidatura no segundo turno, pelo menos um acordo para viabilizar apoios.”
Amaral ressalva que essa é uma análise “em um mundo normal”. Mas o cenário de crise é muito volátil, e não se sabe nem mesmo se Bolsonaro vai chegar ao fim do mandato. Na semana passada, Arthur Lira fez um alerta ao presidente, falando em “remédios amargos” disponíveis no Congresso. O recado foi avaliado pelo cientista político Leonardo Barreto como um sinal de que a situação é cada vez mais difícil para Bolsonaro e um processo de impeachment já existe no horizonte. Com avaliação semelhante, o diretor do Diap Antônio Augusto de Queiroz afirmou que Bolsonaro nunca esteve tão perto do impeachment.
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