segunda-feira, 7 de junho de 2021

A arma na parede de Bolsonaro

Foto: Reprodução
Por Eugênio Aragão, no Diário do Centro do Mundo:

É do teatrólogo russo Anton Chekov a frase célebre “se for, no primeiro ato, pendurar, na parede, uma pistola, no último, deve-se atirar com ela – do contrário, não a pendure.”

Bolsonaro pendurou, desde seu primeiro dia no governo, a pistola na parede.

Ameaçou o STF, homenageou um torturador, afrouxou as regras de aquisição e posse de armas pela população, participou de atos públicos contra o Congresso e o judiciário e, dentre outras bazófias, prenunciou não aceitar o resultado das eleições presidenciais de 2022, se ele não for eleito.

Ninguém pode dizer que não viu a pistola dependurada.

Todos os dias fomos assaltados com o discurso ameaçador e disruptivo do presidente da república.

Seu mandato tem sido exercido com improbidades e indecoro a rodo. Não pode ter passado desapercebido.

Mas, até agora, apesar da mais de uma centena de representações por crimes de responsabilidade à presidência da Câmara, nenhum dos presidentes da casa legislativa se animou a instaurar o respectivo processo.

E Bolsonaro não para de lançar seus olhares lânguidos à pistola na parede.

Gosta de se gabar com “seu exército”; exército, aliás, com longeva tradição de golpes desde 1889, cujo comando baixou a cabeça a seu capitão reformado, quando este lhe determinou violar a lei que impunha aplicação de punição ao general-intendente da ativa Eduardo Pazuello, por ter participado de ato político de apoio ao presidente da república.

O sinal está amarelo.

A menos que se tire de cena, a pistola da parede ou o ator que a possa usar, tudo sugere que, no último ato de seu governo, Bolsonaro a descarregará sobre a sociedade brasileira.

Passou da hora de agir.

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