quarta-feira, 30 de junho de 2021

A caçada a Lázaro e o projeto de Bolsonaro

Por Moisés Mendes, no Diário do Centro do Mundo:

A direita sabe tirar proveito de episódios como esse do cerco que resultou na execução de Lázaro Barbosa.

A direita (e não só a extrema direita) faz bem mais do que comemorar.

A Internet e as redes de Whats estão cheias de textos com notas fakes atribuídas a políticos da esquerda, principalmente os que têm os nomes vinculados à luta pelos direitos humanos.

São caluniados com a informação de que estariam dispostos até a contratar advogados para defender a família de Lázaro.

Outros são apontados como autores de mensagens em que lamentam a morte do bandido.

Não vou citar nenhum dos difamados, não porque possa achar que corro o risco de contribuir para a disseminação de bobagens e injúrias. Não imagino que meus textos sejam lidos por imbecis. Não divulgo porque a tática toda é muito nojenta.

Para a direita, um Lázaro é um troféu. Comemoram a execução, propagam que esse é o único jeito de fazer justiça, destacam o heroísmo da polícia e contribuem para que nada seja esclarecido.

Lázaro matava sob encomenda.

Os mandantes dos crimes devem estar comemorando mais do que a população da região onde ele foi executado, em Cocalzinho de Goiás.

O outro ponto a favor da direita e da extrema direita é o que transforma a ação da polícia não só em ato de bravura e justiça sumária, mas em modelo a ser seguido e aperfeiçoado para perseguir inimigos.

Bolsonaro, que publicou a exclamação miliciana “CPF cancelado”, comemorando a ação, quer contar com as polícias para disseminar violência política, e não mais só contra negros e pobres.

Matar um bandido, para provocar comoção, na cabeça de Bolsonaro, agora é parte de um treinamento. Lázaro preso não valeria quase nada, até porque poderia fugir de novo, é o que a direita diz.

Os ensaios estão proliferando por toda parte.

Este ano, o Brasil teve muitos casos de arbitrariedades policiais, incentivadas pelo fascismo bolsonarista, com cunho claramente político.

Uma chacina da PM do Amazonas, em 12 de junho, na cidade de Tabatinga, matou sete pessoas.

Foi a vingança pela morte de um sargento.

Um policial gritou durante a matança que imperava agora “a lei de Bolsonaro”.

O sonho de Bolsonaro é ter milícias fardadas, criadas dentro das polícias militares, ao lado de milícias civis, todas misturadas às Forças Armadas.

É um delírio que ele está levando em frente, sob o silêncio dos militares que o protegem, e que em pouco tempo não será mais apenas o projeto de um alucionado.

Bolsonaro acha que pode fazer no Brasil o que aconteceu na Bolívia em 2019, quando motins de polícias prepararam o clima para a derrubada de Evo Morales e empurraram os generais covardes para o golpe.

Cada ato, como esse da execução de Lázaro, acaba sendo um ensaio para o que Bolsonaro imagina como cenário ideal para o golpe que ele planejada desde que assumiu.

As polícias são fortalecidas, a arbitrariedade e a violência se impõem, em nome do combate ao banditismo, e os grandes bandidos milicianos, aliados dos Bolsonaros, continuam atuando.

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