Por Lygia Jobim, no site Carta Maior:
A frase dita pelo Coronel Jarbas Passarinho, quando ministro do Trabalho e da Previdência Social, durante a reunião na qual se decidiu pela decretação do AI-5, em dezembro de 1968, pode ser colocada na boca do comandante do Exército, General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira: "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência."
Só que o General Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, ao deixar de punir a participação de Eduardo Pazuello em manifestação política-partidária, mandou às favas igualmente o princípio básico pelo qual, todo militar, deve obediência ao que determina, não só o regulamento disciplinar do Exército como o Estatuto dos Militares, abrindo espaço para que a indisciplina se instale dentro da força que comanda.
Como militar da ativa, o General Eduardo Pazuello não poderia ter comparecido e se manifestado publicamente ao lado de Jair Bolsonaro, em manifestação dessa natureza, sem prévia autorização de seus superiores no Exército. Transgrediu assim, frontalmente, um dos itens do anexo do regulamento disciplinar em que cento e treze atos considerados infrações são listados.
Já o artigo 45 do Estatuto dos Militares, diz serem “proibidas quaisquer manifestações coletivas, tanto sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou político”
No entanto, em nota oficial, o Centro de Comunicação Social do Exército informou:
Acerca da participação do General de Divisão EDUARDO PAZUELLO em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general.
Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General PAZUELLO.
Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado.
Brasília-DF, 3 de junho de 2021
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO
Como assim? Como não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar? Ele tinha autorização e o país nunca soube, nem isso nos é dito e provado agora ou, mais uma vez, trata-se apenas de mais um caso em que “um manda e o outro obedece”? Se tinha autorização o caso se reveste de maior gravidade ainda, pois teria sido o próprio Exército, personificado em Pazuello, a participar do ato.
Quando este último obedeceu, cegamente, à ordem irracional de Bolsonaro de suspender a compra de milhões de doses da vacina Coronavac, o país tinha em torno de 158.000 mortos por Covid-19. Hoje, quando o senhor, ao que parece, obedeceu cegamente à ordem emanada do mesmo ser descerebrado que ainda ocupa o Palácio do Planalto, o país conta com 468.000. Destas 310.000 mortes quantas poderiam ter sido evitadas com um pouco de bom senso de seu comandado?
Cuidado General Paulo Sérgio. Não permita que sob seu comando o Exército deixe de ser uma instituição de Estado e se transforme em instituição de um governo fascista. Não permita que ele acabe por se transformar em coadjuvante de grupos milicianos.
Há limites que não podem ser transpostos, há escrúpulos que não se mandam às favas. O preço é o de passar para a história como um que não tem caráter. Relembre o juramento que fez ao se formar na AMAN. Recupere sua condição de bom militar. Recupere, sobretudo, sua consciência General Paulo Sérgio, para que depois não tenha que correr atrás do prejuízo.
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