Por Tereza Cruvinel, no site Brasil-247:
Rifando Ricardo Salles, ministro para lá de carbonizado, Bolsonaro não conseguirá segurar a repercussão do maior escândalo de corrupção de seu governo, o Covaxingate.
Ele agora é alvo claro e brilhante da CPI da Covid, e ainda que não possa legalmente ser investigado pela comissão do Senado, poderá ser responsabilizado no relatório final.
Ou num relatório parcial que pode ser votado no meio do caminho.
O pronunciamento ameaçador e autoritário do ministro Onyx Lorenzoni, ao lado de um investigado da CPI, o ex-secretário-executivo do ministério da Saúde na gestão Pazuello, também não serviu para atenuar o estrépito das revelações.
Pelo contrário, reforçou a ideia de um governo apavorado. Já na segunda-feira, no que pareceu uma reação às manifestações de sábado e ao avanço da CPI, Bolsonaro deu mostras de que anda com os nervos em frangalhos.
Já era o medo transfigurado em Bolsonaro.
Talvez a razão do ataque histérico em Guaratinguetá fosse outra. Ou tudo junto e misturado.
Amanhã, sexta-feira, quando o deputado Luis Miranda e seu irmão Luiz Ricardo prestarem depoimento à CPI, teremos mais clareza sobre o jogo que está em curso.
As dúvidas sobre o papel dos irmãos são compreensíveis.
Para um deputado bolsonarista e metido em algumas encrencas, a aposta alta contra o presidente e figuras do Ministério da Saúde, especialmente militares, gera dois tipos de suspeita.
Uma, a de que teve interesses muito grandes contrariados e está indo à forra. Outra, a de que seja peça de um jogo bruto, envolvendo forças e atores poderosos, para jogar Bolsonaro ao mar.
Isso feito, com um impeachment, ganha-se tempo para a montagem de um arranjo eleitoral que evite o Lula X Bolsonaro, de resultado previsível, segundo todas as pesquisas, a favor do ex-presidente, que justamente ontem colheu sua maior vitória moral e política, com a decisão oficial do STF pela suspeição de Sergio Moro, fora a derrubada de outras 14 ações acusatórias.
As motivações dos acusadores neste momento são secundárias.
O que importa é saber se têm mesmo bala na agulha.
Há alguns dias começamos a saber que o MPF enviou à CPI cópia do inquérito originado por revelações de Luiz Ricardo sobre pressões que teria sofrido na execução do contrato de compra de 20 milhões de doses da vacina Covaxin, produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, ao custo de R$ 1,6 bilhão, por um preço unitário (R$ 80) quatro vezes maior que o da Phizer, por exemplo.
E que tal compra, diferentemente de outras, teve um intermediário, a empresa Precisa, que ganharia com isso R$ 500 milhões.
E ainda que Bolsonaro, tão avesso às vacinas, escreveu diretamente ao premiê indiano falando da importância do negócio para o Brasil.
Nas últimas soubemos mais, por entrevistas de um ou de outro dos irmãos.
Que houve pressões para que Luiz Ricardo liberasse, irregularmente, o pagamento de US$ 45 mil (mais de R$ 200 milhões), sem qualquer entrega de vacinas, não para a Precisa ou para a Bharat, e sim para a Madison Biotech, ao que tudo indica uma empresa de fachada com endereço suspeito em Cingapura, um paraíso fiscal.
Seria esse pagamento uma propina ou comissão?
E a quem se destinava?
Haveria alguém do governo associado aos ganhos da Precisa com a mediação?
Bolsonaro entrou no foco direto da CPI, neste caso, por ter demonstrado interesse no negócio e por nada ter feito após ter ouvido do funcionário a denúncia de que havia esquema de corrupção na compra da vacina.
Até ontem à noite, a PF não sabia dizer se recebeu ou não pedido de investigação.
Ontem um generoso espaço foi dado pela Globonews para os senadores Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues darem o recado da CPI: não vão se intimidar, vão garantir a segurança das testemunhas, poderão convocar Onyx se ele continuar fazendo ameaças, e não vão tirar o foco de Bolsonaro, ainda que não possam formalmente investigá-lo.
Terão as classes dominantes concluído que é hora de se livrar de Bolsonaro, por mais útil que ele tenha sido até agora?
E neste caso, será preciso enquadrar o Centrão, que sustenta Bolsonaro no cargo.
O deputado Luiz Miranda disse ter informado o presidente da Câmara, Arthur Lira, de que pretendia colocar a boca no trombone.
Lira perguntou porque ele estava lhe dizendo aquilo, ao que Miranda respondeu: como deputado, sentia-se no dever de ouvir antes o seu presidente sobre as consequências do que pretendia fazer.
E Lira teria respondido: faça o que achar certo.
Se isso procede, foi um sinal de que Lira não se esforçou para impedir que o deputado riscasse o fósforo.
Pode haver impeachment, pode não haver.
De todo modo, este escândalo fará Bolsonaro sangrar mais que os 500 mil mortos na pandemia e o inventário de crimes sanitários e toda ordem que vem cometendo.
E agora, há tubarões excitados no mar.
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