O tumultuado depoimento do autoproclamado representante da empresa Davati Medical Suply para negociação de vacinas, o cabo da Polícia Militar de Minas Gerais Luiz Paulo Dominguetti, nesta quinta-feira (1º), pode ser considerado uma armadilha na qual a CPI da Covid caiu, ou pelo menos um despiste para “tirar o foco da comissão”? Direta ou indiretamente, senadores alertaram para a possibilidade. Entre eles, Jean-Paul Prates (PT-RN) e Simone Tebet (MDB-RS). “Estamos no fio da navalha. Muita gente vai aparecer (para prestar depoimento) e temos que ter muito cuidado com os que podem vir para confundir”, disse o petista. A CPI não terá sessão amanhã (2) e volta a se reunir na terça-feira (6).
A emedebista observou que os senadores possivelmente estiveram hoje “diante de um bode na sala”, porque foi apresentado um “áudio fraudulento”. E, ainda, que o colegiado não conseguiu concluir se foi “espontaneamente ou foi plantado”. A senadora acrescentou que Dominguetti pode ter sido induzido a depor para se tornar um “bode expiatório”. Por outro lado, chamou a atenção que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) marcou presença em grande parte da sessão, da manhã à tarde.
Irritação na cúpula da CPI
Dominguetti afirmou que receberia instruções do empresário Cristiano Alberto Carvalho, representante da empresa Davati no Brasil, inclusive sobre o áudio com que o depoente, aparentemente, tentou desqualificar a oitiva do deputado Luis Miranda (DEM-DF) e seu irmão, o servidor Luis Ricardo, sobre o esquema para a compra da vacina indiana Covaxin. O áudio provocou tumulto na sessão e irritou o presidente Omar Aziz (PSD-AM) e o relator Renan Calheiros (MDB-AL) no período da manhã. O celular do depoente foi parar na perícia técnica do Senado.
O depoimento de hoje acabou virando prioridade, adiando o do empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa Medicamentos, marcado para esta quinta, que seria mais importante. A empresa é intermediária da compra da Covaxin, que não se concretizou. Ontem, a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber concedeu mais um habeas corpus, desta vez a Maximiano, para que ele deponha em silêncio.
O empresário negou, ao jornal O Globo, que o áudio divulgado por Dominguetti fosse sobre negociação de vacinas. Já o deputado Luis Miranda foi a um cartório e registrou uma ata notarial sobre as trocas de mensagens que Dominguetti mostrou. O parlamentar afirmou que fez isso para deixar provado que o áudio era de outubro de 2020 e tratava de negociação de luvas para restaurantes nos Estados Unidos. No fim da sessão, o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) pediu a prisão do depoente, mas Omar Aziz não acatou.
Ligações estranhas
Entretanto, não bastasse o volume de denúncias já levantado pela CPI, novas revelações apontam para mais uma rede suspeita. Segundo reportagem da Agência Pública, a organização evangélica Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) “articulou a aquisição de vacinas com o Ministério da Saúde” da AstraZeneca e da Johnson (citadas pelo depoente de hoje à CPI). As doses seriam para ser oferecidas a prefeituras e governos estaduais.
O presidente da Senah é o pastor Amilton Gomes de Paula. De acordo com a reportagem, o reverendo esteve no ministério em 4 de março de 2021, quando postou foto ao lado de Dominguetti e anunciou articulação para vacinas. Segundo o cabo da PM disse à CPI, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria sido o homem que cobrou propina na negociação de vacinas. Dias, demitido anteontem (29), foi indicado pelo líder de governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR). Pela manhã, Dominguetti foi questionado pelo relator, Renan Calheiros, sobre a quem foi entregue a proposta de compra das vacinas. O depoente disse que “três pessoas no ministério receberam proposta, senhor Laurício, seu Roberto Dias e o coronel Élcio Franco” (então secretário-executivo do Ministério da Saúde).
Entretanto, não bastasse o volume de denúncias já levantado pela CPI, novas revelações apontam para mais uma rede suspeita. Segundo reportagem da Agência Pública, a organização evangélica Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah) “articulou a aquisição de vacinas com o Ministério da Saúde” da AstraZeneca e da Johnson (citadas pelo depoente de hoje à CPI). As doses seriam para ser oferecidas a prefeituras e governos estaduais.
O presidente da Senah é o pastor Amilton Gomes de Paula. De acordo com a reportagem, o reverendo esteve no ministério em 4 de março de 2021, quando postou foto ao lado de Dominguetti e anunciou articulação para vacinas. Segundo o cabo da PM disse à CPI, o ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria sido o homem que cobrou propina na negociação de vacinas. Dias, demitido anteontem (29), foi indicado pelo líder de governo na Câmara, Ricardo Barros (PP/PR). Pela manhã, Dominguetti foi questionado pelo relator, Renan Calheiros, sobre a quem foi entregue a proposta de compra das vacinas. O depoente disse que “três pessoas no ministério receberam proposta, senhor Laurício, seu Roberto Dias e o coronel Élcio Franco” (então secretário-executivo do Ministério da Saúde).
Senadores apontaram também que, apesar de anteriormente negar, o depoente publicou posts em redes sociais, printados antes de serem apagados, defendendo o presidente Jair Bolsonaro. “General Heleno comendo fígado de Lula ao alho poró” seria um deles. Outro: “General Villas Bôas sai em defesa da lava Jato e Sergio Moro”, como apontou Rogério Carvalho (PT-SE). Segundo Dominguetti, quando esteve com Élcio Franco, este aparentou não saber da proposta de 400 milhões de doses feita a Roberto Dias.
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