Numa semana de tempestade perfeita contra o presidente, Jair Bolsonaro se viu enredado na teia de aranha da corrupção, uma velha senhora conhecida de nossas elites e mesmo dos militares, aqueles que deram o golpe de 1964 contra a corrupção e a subversão. Se os militares tiverem sucesso no combate aos movimentos de esquerda, registraram enorme fracasso no combate à corrupção que se espraiou durante a ditadura. Com o governo Bolsonaro, registra-se o mesmo fenômeno.
Instrumento político de mil usos para abater adversários, o fantasma da corrupção tem sido usado, no Brasil, desde a campanha sobre o mar de lama que envolveria o Palácio do Catete e que levou Getúlio ao suicídio. E só não acabou em golpe de Estado em função da revolta do povo que chorou e pranteou seu líder.
Depois, surgiram outros arautos do moralismo e que fizeram suas campanhas a presidente da República prometendo acabar com a corrupção no país. Vistas de hoje, parecem piada pela desfaçatez. Jânio Quadros varreria o Brasil com sua vassourinha e Fernando Collor de Mello, caçando marajás. No século atual tivemos a Lava Jato, cujas vísceras apodrecidas foram expostas ao país e seus objetivos políticos desmascarados.
Isolado e na defensiva, com alta rejeição em todas as regiões do Brasil, em todas as faixas etárias e níveis de educação e renda, com riscos reais de perder a eleição, Bolsonaro apela para sua base ainda fiel e radicaliza o discurso. Continua a dar sinais claros de que não respeitará o resultado das urnas, motivo pelo qual embarcou na defesa da volta do voto impresso para combater supostas fraudes, não comprovadas, no sistema eleitoral eletrônico brasileiro.
O presidente agarra-se à sua base neopentecostal (cada vez menor), ao agronegócio e aos ruralistas de direita e a suas milícias organizadas, treinadas e armadas. Mas seu discurso perde apoio e legitimidade, sua máscara cai e deixa nu seu verdadeiro caráter. Cada vez mais, amplos setores da sociedade o abandonam, colocando-se contra sua política genocida na pandemia, seu desprezo ao povo, suas políticas que só tiraram direitos dos trabalhadores e da população pobre em geral. As pesquisas dão a medida exata de sua perda de popularidade e as ruas começam a falar cada vez mais.
Elites financeiras
Sua última trincheira são as elites financeiras, a chamada Faria Lima, que continuam a apoiar suas “reformas” que não passam de favores e reservas de mercado, de simples entrega a preço vil do patrimônio público acumulado durante décadas por gerações de brasileiros, como no caso da Petrobras e da Eletrobras. As consequências das “reformas” recaem nas costas do povo trabalhador, que enfrenta a carestia e os preços exorbitantes dos alimentos e combustíveis.
Bolsonaro se prepara para judicializar as eleições e se perpetuar no poder usando o Orçamento e as emendas parlamentares, o Distritão e o voto impresso. Quer criar uma crise institucional para não ser apeado do governo e tentar reeditar o golpe de 1964, que durou 21 anos e só foi encerrado com a Campanha das Diretas, pois os militares, toda vez que perdiam nas urnas, editavam atos institucionais e decretos para restringir as liberdades do povo.
Não há dúvidas sobre os objetivos de Bolsonaro. A questão é saber até onde os militares, o centrão e a elite econômica estão dispostos a sustentar seu desgoverno e suas políticas destrutivas, a começar pela sabotagem à vacina e ao isolamento social, que já custou mais de 500 mil vidas.
A CPI da Covid, as manifestações de 29 de maio e 19 de junho e a rejeição e reprovação do presidente e de seu governo registradas pelas pesquisas mostram que a imensa maioria do país quer virar a página e superar o delírio bolsonarista. O problema é que as forças políticas que deram o golpe de 2016 e sustentaram a Lava Jato, até que ela os atingiu, também podem sair derrotadas da eleição.
Esse é um dos motivos que as impede de apoiar o impeachment, cuja conveniência não deveria estar vinculada a cálculos eleitorais. Mas não é o único: afinal, o governo e suas políticas antipovo atendem seus interesses econômicos. Nem mesmo o risco de uma ditadura ou aventura golpista as obriga a uma política de unidade contra Bolsonaro.
Os fatos indicam que hoje a alternativa a Bolsonaro é Lula e que uma 3ª via parece improvável; mesmo que venha a existir, será incapaz de vencer as eleições. Como sempre, em nosso país de capitalismo atrasado e uma elite formada no escravagismo, articula-se uma solução negociada pelos donos do poder, um impeachment para viabilizar uma disputa entre um candidato –seja ele Ciro, Mandetta, Eduardo Leite, Dória– que dê continuidade às chamadas reformas, ou seja, à manutenção do status quo. Mas há o fator Lula que tem grande chance de vencer as eleições, mesmo sem Bolsonaro na disputa.
Os resultados de 2022, é claro, vão depender da vontade da maioria das brasileiras e dos brasileiros. Tudo indica que querem mudanças reais no país e não só de governo, querem distribuição de renda e riqueza, impostos sobre os ricos, juros menores, mais Estado, saúde e educação públicas e universais, melhores condições de vida.
Sua última trincheira são as elites financeiras, a chamada Faria Lima, que continuam a apoiar suas “reformas” que não passam de favores e reservas de mercado, de simples entrega a preço vil do patrimônio público acumulado durante décadas por gerações de brasileiros, como no caso da Petrobras e da Eletrobras. As consequências das “reformas” recaem nas costas do povo trabalhador, que enfrenta a carestia e os preços exorbitantes dos alimentos e combustíveis.
Bolsonaro se prepara para judicializar as eleições e se perpetuar no poder usando o Orçamento e as emendas parlamentares, o Distritão e o voto impresso. Quer criar uma crise institucional para não ser apeado do governo e tentar reeditar o golpe de 1964, que durou 21 anos e só foi encerrado com a Campanha das Diretas, pois os militares, toda vez que perdiam nas urnas, editavam atos institucionais e decretos para restringir as liberdades do povo.
Não há dúvidas sobre os objetivos de Bolsonaro. A questão é saber até onde os militares, o centrão e a elite econômica estão dispostos a sustentar seu desgoverno e suas políticas destrutivas, a começar pela sabotagem à vacina e ao isolamento social, que já custou mais de 500 mil vidas.
A CPI da Covid, as manifestações de 29 de maio e 19 de junho e a rejeição e reprovação do presidente e de seu governo registradas pelas pesquisas mostram que a imensa maioria do país quer virar a página e superar o delírio bolsonarista. O problema é que as forças políticas que deram o golpe de 2016 e sustentaram a Lava Jato, até que ela os atingiu, também podem sair derrotadas da eleição.
Esse é um dos motivos que as impede de apoiar o impeachment, cuja conveniência não deveria estar vinculada a cálculos eleitorais. Mas não é o único: afinal, o governo e suas políticas antipovo atendem seus interesses econômicos. Nem mesmo o risco de uma ditadura ou aventura golpista as obriga a uma política de unidade contra Bolsonaro.
Os fatos indicam que hoje a alternativa a Bolsonaro é Lula e que uma 3ª via parece improvável; mesmo que venha a existir, será incapaz de vencer as eleições. Como sempre, em nosso país de capitalismo atrasado e uma elite formada no escravagismo, articula-se uma solução negociada pelos donos do poder, um impeachment para viabilizar uma disputa entre um candidato –seja ele Ciro, Mandetta, Eduardo Leite, Dória– que dê continuidade às chamadas reformas, ou seja, à manutenção do status quo. Mas há o fator Lula que tem grande chance de vencer as eleições, mesmo sem Bolsonaro na disputa.
Os resultados de 2022, é claro, vão depender da vontade da maioria das brasileiras e dos brasileiros. Tudo indica que querem mudanças reais no país e não só de governo, querem distribuição de renda e riqueza, impostos sobre os ricos, juros menores, mais Estado, saúde e educação públicas e universais, melhores condições de vida.
Soluções velhas
O país vive problemas graves. Os governos Temer e Bolsonaro, com suas políticas neoliberais, não foram capazes de fazer o país crescer com bem estar social. Ao contrário, só fizeram aumentar a concentração de renda e riqueza, de um lado, e a pobreza e a fome, de outro. Não só não entramos no século 21, como retrocedemos a passos largos, num momento que se avizinham transformações importantes no mundo como anunciam as políticas propostas por Biden e a inexorável ascensão da China como 1ª potência.
A mediocridade e velhice das soluções apresentadas por nossas elites para o país estão escancaradas pelas próprias políticas que os Estados Unidos e a Europa passaram a praticar nos últimos meses, usando a capacidade de investimento de seus governos e o poder do Estado para distribuir renda e proteger os mais pobres e as pequenas empresas, abalados pelos efeitos econômicos da pandemia.
Além de velhas e superadas, as soluções desenhadas pelas elites brasileiras que se sustentam no ideário neoliberal não têm lugar no futuro. Seu fracasso está estampando nas rebeliões populares no nosso entorno geopolítico e nas derrotas eleitorais da direita em vários países da América Latina.
Cabe às nossas esquerdas conquistar o apoio do povo e vencer as eleições para fazer as reformas estruturais necessárias para desconcentrar a renda, distribuindo a riqueza, e criar um Estado de bem estar social para a maioria das cidadãs e dos cidadãos. E, claro, fazer o Brasil retomar seu protagonismo no cenário internacional.
O país vive problemas graves. Os governos Temer e Bolsonaro, com suas políticas neoliberais, não foram capazes de fazer o país crescer com bem estar social. Ao contrário, só fizeram aumentar a concentração de renda e riqueza, de um lado, e a pobreza e a fome, de outro. Não só não entramos no século 21, como retrocedemos a passos largos, num momento que se avizinham transformações importantes no mundo como anunciam as políticas propostas por Biden e a inexorável ascensão da China como 1ª potência.
A mediocridade e velhice das soluções apresentadas por nossas elites para o país estão escancaradas pelas próprias políticas que os Estados Unidos e a Europa passaram a praticar nos últimos meses, usando a capacidade de investimento de seus governos e o poder do Estado para distribuir renda e proteger os mais pobres e as pequenas empresas, abalados pelos efeitos econômicos da pandemia.
Além de velhas e superadas, as soluções desenhadas pelas elites brasileiras que se sustentam no ideário neoliberal não têm lugar no futuro. Seu fracasso está estampando nas rebeliões populares no nosso entorno geopolítico e nas derrotas eleitorais da direita em vários países da América Latina.
Cabe às nossas esquerdas conquistar o apoio do povo e vencer as eleições para fazer as reformas estruturais necessárias para desconcentrar a renda, distribuindo a riqueza, e criar um Estado de bem estar social para a maioria das cidadãs e dos cidadãos. E, claro, fazer o Brasil retomar seu protagonismo no cenário internacional.
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