Por Marcos Coimbra, no site Brasil-247:
Existem dois centrões: o enfatiotado e o fardado.
O primeiro é velho e seu nome é escrito com maiúscula na inicial.
O segundo é novidade e não merece a distinção.
São iguais no que interessa: formam a sustentação do governo do pior presidente de nossa história.
Contra o espanto e apesar da rejeição da maioria do País, os dois centrões seguram Bolsonaro no cargo.
Sem eles, já teria ido para o espaço e o pesadelo bolsonarista seria passado.
O Centrão habita o prédio do Congresso Nacional.
Seus integrantes são conhecidos, se apresentaram ao eleitorado e foram eleitos.
São senadores e deputados cujo nome está na porta dos gabinetes em que trabalham. Sabemos os partidos a que pertencem e os estados que representam.
Quem quiser se aprofundar, rapidamente obtém informações a respeito de sua trajetória pessoal e profissional.
O centrão com farda é opaco, não se conhecem os nomes de seus integrantes, suas origens e biografia, salvo da dúzia que chefia ministérios.
Ninguém sabe quantos estão no governo, de onde vieram e como chegaram aos postos que ocupam.
Na estimativa mais recente, passam de 6 mil, vindos do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Só no topo das 19 estatais vinculadas à União, havia, em março, 93 cargos de comando preenchidos por militares.
Hoje, devem chegar a cem, enquanto que, no final do período de Temer, eram nove.
O capitão levou sua galera para empregos de luxo na Petrobras, Casa da Moeda, nos Correios, no Serpro e Infraero, entre outros lugares onde os indicados nem sempre precisam trabalhar.
O Centrão do Congresso já teve diversas composições, mas, de Sarney ao capitão, sempre apoiou quem estava na Presidência, em troca de verbas e nomeações.
O preço variou em função do benefício que tinha a oferecer: presidentes fortes precisavam pouco de seus préstimos, fracos podiam estar desesperados e pagavam qualquer ágio.
Como agora, quando Bolsonaro não tem opção e faz o que a turma quer.
A fome do centrão fardado não é satisfeita apenas com milhares de cargos. Para contar com seu apoio, Bolsonaro trata a pão de ló os militares.
Para eles, tudo é melhor: salários, aposentadorias, programas habitacionais, verbas para treinamento e qualificação.
Nenhum de seus velhos privilégios é questionado.
Até disparates, como as tradicionais pensões vitalícias para as filhas de militares (independentes de estado civil ou idade e que podem passar de 100 mil reais ao mês), permanecem praticamente inabalados.
Há, para o cidadão e contribuinte, alguma diferença entre o que Bolsonaro gasta de dinheiro público no pagamento do apoio de um ou outro centrão?
Aquilo que aplica para obter o voto dos parlamentares do Centrão no que quiser e, muito especialmente, na rejeição do impeachment?
O que destina para a remuneração de milhares de militares em cargos públicos, fora os parentes e agregados?
Os benefícios que mantém ou inventa para os membros das Três Forças, em troca do que se permite tratá-las como “suas” e ameaçar usá-las contra a ordem jurídica e as instituições?
Qual dos dois centrões é mais nocivo?
Qual o mais caro?
Qual mais contribui para a desmoralização do Estado, dando às pessoas o sentimento de que objetivos e formas de atuação do Poder Público são compráveis?
Qual centrão mais funciona na base do toma lá, dá cá?
Qual mais avilta o conceito de interesse coletivo, gastando recursos que pertencem a todos para alcançar finalidades privadas?
Ambos são corruptos?
Não há prova cabal que sim, mas é certo que há suspeitas de corrupção de integrantes dos dois.
A existência do Centrão no parlamento brasileiro é uma distorção que decorre dos problemas que existem em nosso sistema politico.
Pode demorar a ser consertada, através de mudanças na legislação eleitoral e partidária e no regimento das Casas do Congresso, mas não é inevitável.
O centrão fardado é um problema premente e mais grave.
Ou a elite brasileira o enfrenta, sem medo de grunhidos e arreganhos, ou continuaremos reféns de personagens que pervertem a democracia, se escondendo atrás do respeito que as Forças Armadas tiveram um dia.
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