quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A conta simplista do apoio ao voto impresso

Por Moisés Mendes, no Diário do Centro do Mundo:


Todos os 229 deputados que apoiaram a proposta de emenda do voto impresso são defensores da tese bolsonarista ou são próximos ou seguidores incondicionais de Bolsonaro?

Não. Claro que não.

A indução a esse erro, que se dissemina em algumas análises apressadas, só contribui para a confusão a serviço de Bolsonaro.

São conclusões simplistas que tentam fazer também uma conexão entre a votação de ontem e os indícios (que teriam saído dessa votação) de que se reduziu a possibilidade de impeachment de Bolsonaro.

A proposta de voto impresso não era, para a maioria dos que a apoiaram, uma ideia comprometedora.

Ah, dizem, mas era defendida por Bolsonaro. Sim, o grande defensor do voto impresso é Bolsonaro.

Há vastos contingentes envolvidos no debate, inclusive analistas políticos, acadêmicos, estudiosos, que mais confundiram do que esclareceram.

Todos sugerindo que o debate do voto impresso é técnico. Nesses circunstâncias, não é.

A certeza de que Bolsonaro é apenas um farsante, que deseja o voto impresso para criar confusão, e não para assegurar mais transparência, é clara para a classe média bem informada e para as esquerdas.

Mas e o resto, talvez a maioria?

E a classe média conservadora que lê os analistas com seus argumentos ‘técnicos’ sobre o voto impresso? E a população que nem sabe direito o que estava sendo votado?

O deputado que se posicionou pelo voto impresso não fica mal na parada com os não-bolsonaristas, nem é necessariamente um bolsonarista.

Ele pode ser apenas um pragmático-oportunista.

Esse deputado pode ter motivos claros para ter votado pela emenda, mas que não passem apenas pelo alinhamento com a extrema direita e os desejos de Bolsonaro.

O deputado que apoiou o voto impresso sabe que atende demandas de gente que não é bolsonarista.

E mediu até o risco de ser visto como alguém contrário a uma ideia, aparentemente sensata, de que o voto deve ser “auditável”.

Bolsonaro apropriou-se de uma tese que até poderia ser racional e aplicável. Por que alguém seria contra a transparência na eleição?

Pesquisa do PoderData realizada em maio mostrou que 40% dos brasileiros aprovavam a ideia.

A direita da bancada gaúcha, que votou em peso na ideia, não é toda bolsonarista.

É apenas uma bancada reacionária, com alguns da extrema direita.

Os gaúchos e outros deputados que apoiaram a proposta defendida por Bolsonaro fizeram uma conta de chegada: apoiam o voto impresso, eliminam riscos com o eleitorado conservador e ainda ficam bem com o governo.

O impeachment é outra conversa, é outro jogo, que somente será jogado quando o centrão tiver saqueado o que estiver por perto e jogar o bagaço de Bolsonaro na sarjeta.

A matemática que tenta juntar a votação de ontem aos possíveis resultados de uma tentativa de impeachment é prima daquela em que Bolsonaro somou a queda de 4% do PIB com o aumento de 5% e concluiu que o ganho para a economia havia sido de 9%.

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