Por Moisés Mendes, no site Brasil-247:
A defesa das eleições e da democracia já mobilizou artistas, escritores, juízes, religiosos e economistas. Temos manifestos produzidos em todas as áreas contra a tentativa de golpe.
Temos abaixo-assinados categóricos de subprocuradores a banqueiros.
Mas não temos ainda uma manifestação pública dos militares legalistas.
Temos notas demais de generais reformados que saem em socorro de Bolsonaro.
Na semana passada, os clubes de oficiais da reserva do Exército, da Marinha e da Aeronáutica emitiram uma declaração pública em defesa do “voto auditável”.
No início do ano, o presidente do Clube Militar, general Eduardo José Barbosa, divulgou um manifesto em que atacava a CPI do Genocídio, defendia Bolsonaro e definia Lula como representante das trevas.
O mesmo autor já atacou diretamente o presidente da CPI, Omar Aziz, e advertiu que “as Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro”.
São textos precários. Mas não há nem textos precários do outro lado, o dos militares que defendem a Constituição e as eleições.
Os calados têm a desculpa de que militares, na ativa ou na reserva, estão impedidos de emitir opiniões políticas.
Por isso os legalistas estariam quietos.
Se não pudessem falar, não teríamos repetidas manifestações de militares governistas.
No caminho inverso, da contestação, é possível decorar os nomes dos críticos de Bolsonaro e os questionadores dos blefes do golpe.
São os generais Paulo Chagas, Santos Cruz e Francisco Mamede de Brito Filho e o coronel Marcelo Pimentel.
Quem entrar no Google com buscas sobre militares que se atrevem a atacar Bolsonaro terá como resposta os nomes deles.
Sempre os mesmos nomes.
Bolsonaro já demitiu 17 generais.
Humilhou e mandou embora os comandantes das três armas.
Dispensou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que talvez seja o mais bem informado general sobre os humores de Brasília, dentro e fora dos quartéis.
Todos os que foram rejeitados estão quietos, porque a regra é não falar. Santos Cruz é a exceção, por causa do temperamento, do destemor e por ter alguma certeza de que as ameaças de Bolsonaro são uma farsa. E os outros?
Militares são protagonistas da política, querendo ou não, por ação ou por omissão, em situações em que a democracia passa a ser ameaçada por aberrações.
Hoje, são protagonistas como protetores de Bolsonaro.
O mais protagonista dos protetores é o general Braga Netto, que cumpre agora no governo uma função que Azevedo e Silva se negou a cumprir.
Braga Netto já autorizou, com uma nota pública, que outros digam o que pensam. Augusto Heleno já havia feito o mesmo. O próprio Azevedo e Silva emitiu nota com conotação política.
Mas os limites estão bem claros.
Muitos podem dizer tudo o que pensam, desde que pensem como Bolsonaro.
Os outros podem discordar silenciosamente.
É razoável que, sob a ameaça de golpe, os brasileiros tentem avaliar, sem quaisquer medidores confiáveis, quais são as posições dos militares.
Seria bom se, com a mesma valentia dos colegas aliados de Bolsonaro, os militares democratas dessem alguns sinais e também expusessem o que pensam.
Pode parecer ingenuidade acreditar que seja possível ter militares legalistas defendendo de forma explícita suas posições em meio ao tiroteio.
Que sejamos ingênuos.
Oficiais democratas deveriam mandar pelo menos recados a Bolsonaro, se não querem correr o risco de emitir posições públicas.
Precisamos dos legalistas, porque os cúmplices dos blefes do golpe já disseram tudo.
Os outros, os que estão calados, poderiam arranjar um jeito de dizer que são discordantes, mesmo que não seja por manifestos.
Em algum momento, se o golpe começar a ganhar forma, eles terão de se manifestar, para um ou outro lado, e aí pode ser tarde demais.
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