Por Moisés Mendes, no site Brasil-247:
Há pelo menos um detalhe interessante no discurso de Luiz Fux na volta do recesso do Supremo.
O ministro condenou, sem se referir diretamente a Bolsonaro, quem vem fazendo “ataques de inverdades à honra dos cidadãos que se dedicam à causa pública”.
Pessoas que se dedicam a cultivar e a propagar verdades são verdadeiras.
Mas não existe, nem no Houaiss, o inverdadeiro como definição para quem dissemina inverdades.
O produtor de inverdades é apenas um mentiroso.
É como Fux trata Bolsonaro, ao falar em defesa do colega Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, o alvo preferencial do sujeito quando o assunto é o blefe do voto impresso.
É a honra de Barroso que Bolsonaro vem atingindo.
O discurso traz mais do mesmo, desde aquela fala de 27 de maio do ano passado, quando Fux e Dias Toffoli mandaram um recado escrito a quatro mãos a Bolsonaro e aos militares.
Foi uma resposta às reações do Planalto às investigações em torno dos políticos, filhos, amigos e milicianos envolvidos nos atos antidemocráticos e na fábrica de fake news.
O alvo da extrema direita na época era o ministro Celso de Mello.
Pegando-se aquele discurso e o que foi proferido nesta segunda-feira, o que se tem é mais um revirado em defesa da democracia, das instituições e da harmonia entre os poderes, sempre pela preservação da Constituição.
É repetitivo e quase colegial.
A diferença está no detalhe sobre as inverdades. Fux poderia ter dito apenas, mesmo sem citá-lo, que Bolsonaro defende posições conflitantes com os princípios da democracia.
O ministro preferiu deixar claro que o homem mente ao repetir que as eleições tiveram e podem ter fraudes porque o voto eletrônico não conta com o comprovante individual impresso.
O cutucão no mentiroso é um consolo a quem esperava algo mais apimentado, apesar de ter uma boa advertência: "Harmonia e independência entre os poderes não implicam impunidade de atos que exorbitem o necessário respeito às instituições".
Mas o discurso parece genérico demais, sem nenhuma insinuação de que é destinado também aos militares.
O presidente do Supremo livra Braga Netto e faz média com os generais, para que Bolsonaro fique como o inimigo a ser atacado.
É uma fala na mesma linha da nota emitida, também na segunda-feira, por ministros do Supremo e ex-ministros do TSE. A fala e a nota são o combo dos guardiões das eleições.
Agora, segue o baile, com Bolsonaro dançando can-can com os generais, e Ciro Nogueira e o centrão tentando dançar uma valsa com quem estiver por perto.
Bolsonaro foi chamado de mentiroso e, se mantiver o ritmo, não deve se encolher.
Mas o que temos à mão como reação a Bolsonaro ainda é pouco, um discurso e uma nota que terão repercussão até amanhã.
Depois de amanhã, serão apenas o que de fato são.
No dia seguinte ao daquele discurso de 27 de maio do ano passado, de autoria da dupla Fux-Dias Toffoli, Bolsonaro disse no cercadinho do Alvorada: “Acabou, porra!!! Acabou!!!”.
Aguardemos agora o que o mentiroso irá dizer, enquanto a CPI volta a falar das facções das cloroquinas, das vacinas superfaturadas e dos coronéis de Pazuello.
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