Por Rodrigo Vianna, no site Brasil-247:
O Centrão de Arthur Lira parece agir como o bandido que, ao ver a casa pegar fogo, corre não para apagar o incêndio mas pra levar embora joias e talheres valiosos.
Inflação acumulada acima de 10%, fome, miséria e recessão à vista: o Brasil se desfaz. O Centrão, então, resolve ajudar e aprova a absurda PEC dos Precatórios, que sinaliza com calote, descontrole das contas e destruição do mais importante programa social da história: o Bolsa Família.
O resultado de tudo isso não poderia ser outro: a popularidade de Bolsonaro recua para o menor nível desde 2019, mostra pesquisa Quaest – encomendada pela corretora Genial (ressalto esse fato: não é pesquisa encomendada por partido ou ator político de oposição, mas por gente do mercado, e feita com seriedade técnica).
A avaliação do governo Bolsonaro é a seguinte:
- Negativa 56% (era 53% há um mês)
- Regular 22% (era 24%)
- Positiva 19% (era 20%).
Pela primeira vez, o apoio a Bolsonaro cai abaixo de 20 pontos, o que indica um governo perto da desagregação.
Importante: trata-se de pesquisa presencial, que segundo estudiosos capta melhor a avaliação junto ao povo mais pobre – que tem menos acesso à tecnologia. Foram entrevistadas 2.063 pessoas, entre os dias 3 e 6 de novembro/2021.
Lula pode ganhar em primeiro turno
Outra notícia preocupante para Bolsonaro e seus aliados do Centrão: Lula abre vantagem inédita e pode ganhar no primeiro turno
Cenário 1
Lula 48%
Bolsonaro 21%
Moro 8%
Ciro 6%
Doria 2%
Pacheco 1%
A economia é o problema mais sério no país para 48% dos entrevistados pela Quaest/Genial; e Lula o mais preparado para resolver.
Só 9% apontam a corrupção como tema central - o que mostra a dificuldade para Sergio Moro alavancar a candidatura, já que o ex-juiz faz desse assunto o núcleo de sua falsa pregação política.
Lula cresceu também na pesquisa espontânea (quando não são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados): foi a 29% em novembro (contra 22%, há um mês), e Bolsonaro tem apenas 16% (pouquíssimo para um presidente no exercício do cargo).
Gostaria de chamar atenção ainda para a impressionante clivagem de classe no voto dos brasileiros.
Entre quem ganha até 2 salários mínimos: Lula 61% x 15% Bolsonaro.
Entre quem ganha mais de 5 salários mínimos: Lula 34% x 32% Bolsonaro.
Ou seja, se dependesse só da classe média (quem ganha mais de 5 mil reais por mês) e dos ricos, teríamos empate técnico na eleição.
Trata-se de um retrato evidente do abismo social e político no país.
Na fatia mais “rica” da população (o sujeito que tem um carro com 10 anos de uso, mora num apto de 2 quartos e ganha 5 mil por mês é de classe média num país empobrecido pela devastação do período Temer/Bolsonaro), a ideia do salve-se quem puder e de que é melhor “tirar direitos”/armar o povo/sentar a porrada tem ainda muitos adeptos – apesar da tragédia administrativa bolsonarista.
Terceira Via e segundo turno
A pesquisa traz um dado que oferece esperanças à chamada Terceira Via. Quando se pergunta “quem você prefere que vença em 2022”, 46% apontam Lula e apenas 22% Bolsonaro; mas há um contingente de 25% que respondem “nem Bolsonaro, nem Lula”.
Esse é o tamanho da Terceira Via, o que indica a possibilidade teórica de construir alternativa a Bolsonaro, ainda mais se a economia seguir se deteriorando.
Mas vale ressaltar que Lula venceria num segundo turno, tanto contra Bolsonaro (57% x 27%), quanto contra Moro (57% x 20%).
Economia e crise social
Por último, gostaria de manifestar uma pequena discordância em relação a meu colega Miguel do Rosário, que como sempre fez brilhante análise da pesquisa no blog Cafezinho.
Miguel disse que “os ventos são de esquerda”.
Não acho que seja isso. O vento é de fome, miséria, descontrole inflacionário. O vento não sopra “para a esquerda”, mas contra o descalabro administrativo e social imposto por Bolsonaro.
Lula, por tudo o que fez no governo em 8 anos, e mais os 5 anos de Dilma com a marca do PT, é o antídoto contra a destruição.
Aliás, a pesquisa Quaest busca traçar o perfil ideológico dos brasileiros.
E vejam o resultado: 24% se dizem de Direita, 18% de Centro e apenas 17% se definem como de Esquerda.
O PT é, de longe, o partido com mais apoio: 19% se identificam com o Partido dos Trabalhadores, contra 2% para o PSDB e outros partidos não passam de 1%.
Ou seja: o PT e a esquerda têm apoio consistente de aproximadamente 1 a cada 5 brasileiros.
Mas Lula é muito maior que isso e, para vencer, terá que falar para a imensa maioria de brasileiros moderados (e até conservadores).
O vento sopra para Lula.
Se o Centrão (com Bolsonaro) parece o bandido que rouba a casa enquanto ela pega fogo, Lula é visto como o bombeiro que pode não apenas apagar o incêndio mas reconstruir o abrigo que teve suas estruturas abaladas por quase dez anos de golpismo, lavajatismo e neoliberalismo miliciano.
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