Foto: Ricardo Stuckert |
Era uma vez um tempo em que o mundo político dava grande importância a opinião de meia dúzia de colunistas de jornal.
Foi nesse mundo que Lula se elegeu em 2002, e as crises que teve de administrar em seus dois governos foram exercícios complexos de relações públicas com essa mídia tradicional.
Aí nasceu a internet, e o poder da mídia como “influencer” no mercado político começou a declinar rapidamente.
A Lava Jato foi o canto do cisne da grande mídia brasileira. A parceria criminosa entre o Estado jurídico-policial e setores reacionários do jornalismo comercial produziu uma verdadeira catástrofe econômica e política que, por sua vez, deu a luz Bolsonaro.
Entretanto, o próprio Bolsonaro nasceu fora do ambiente da mídia tradicional. Sua força vinha das redes sociais, onde ele era, até pouco tempo, o personagem político com maior poder de mobilização.
Até ontem.
A entrevista de Lula ao Podpah, com audiência simultânea de mais de 300 mil pessoas, inaugurou uma nova era na política brasileira, na qual Bolsonaro não é mais a força hegemônica.
A recepção calorosa e amistosa dos entrevistadores do Podpah sinaliza duas grandes mudanças na conjuntura política deste final de 2021.
Uma delas é a celebração de um pacto tácito entre os grandes influencers populares e a candidatura Lula. Esse pacto vem sendo construído há meses. A entrevista de Lula ao podcast de Mano Brown no Spotfy, em setembro, foi o primeiro marco desse movimento. A propósito, a própria plataforma divulgou há dias de que a entrevista de Lula ao rapper paulista foi o podcast de maior audiência no Brasil em 2021.
A segunda mudança é a derrota, em qualidade e quantidade, de Bolsonaro nas redes sociais. Para efeito de comparação, a live de Bolsonaro de ontem, exibida mais ou menos no mesmo horário da entrevista de Lula, tem hoje 90 mil visualizações. A entrevista com Lula ao Podpah já tem 3,4 milhões de visualizações, e crescendo rapidamente a cada minuto.
Deve-se olhar, portanto, para essa entrevista como um divisor de águas.
Dentre as inúmeras diferenças entre o Antigo Regime da mídia, e o novos tempos da internet e redes sociais, uma das mais interessantes é a transparência destas últimas. Quando um medalhão do colunismo político dava sua opinião na imprensa escrita, não tínhamos a menor ideia de quantas pessoas leriam o texto. Mesmo a audiência da TV aberta sempre foi obscura. Havia inclusive interesse, por parte dos grupos dominantes, de manter essa penumbra, que lhes ajudava a esconder seus fracassos, por um lado, e a empurrar conteúdos políticos impopulares, de outro.
O mundo das redes, ao contrário, é de uma transparência brutal. Podemos ver, em tempo real, a audiência de todos os conteúdos. No caso das lideranças políticas, a sua influência nas redes sociais pode ser medida pelo tamanho de sua mobilização.
Bolsonaro se consolidou nas redes sociais. Ainda hoje ele é a liderança política com mais força nesse universo. Por isso conseguiu vencer as eleições mesmo com praticamente zero tempo de rádio e TV.
Quer dizer, era a liderança mais forte. Até ontem.
Com picos de mais de 300 mil de pessoas assistindo simultaneamente, a entrevista de Lula inaugura um novo momento político no país, onde Bolsonaro não mais é mais hegemônico.
Lula já era o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto.
Agora é também a figura política que gera mais mobilização na internet.
A entrevista ao Podpah estourou a bolha da esquerda, e tem potencial de fazer o petista não apenas ganhar mais alguns pontos nas próximas pesquisas, como de reduzir sua rejeição em setores estratégicos da sociedade, especialmente nas periferias das grandes cidades.
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