Charge: Iotti |
Não me regozijo com a morte de ninguém, nem mesmo com a do pai da extrema direita brasileira, apesar de todo o mal que ele fez ao Brasil. Mas convenhamos: a morte de Olavo de Carvalho é um bom augúrio, um sinal de que os tempos tenebrosos caminham mesmo para o fim, que virá com a eleição de outubro.
Olavo de Carvalho começou a envenenar corações e mentes brasileiras, especialmente de jovens, muito antes do despontar de Bolsonaro.
Ele foi parindo a extrema direita ao longo de duas décadas de pregação. Quando Bolsonaro chegou, na conjuntura sombria de 2018, houve o encontro entre a mão e a luva.
Lembro-me de que em 1998, um amigo por quem eu tinha apreço intelectual/profissional, deu-me de presente um exemplar de "O Imbecil Coletivo", um dos livros mais vendidos do auto-declarado filósofo. Eu não prestava muita atenção em Olavo mas fiquei chocada quando comecei a ler o livro, e mais ainda ao saber que estava vendendo tanto. Antes ou depois, ele havia publicado também "O Imbecil Juvenil".
Não deu outra: meu ex-amigo tornou-se de direita, e mais tarde, bolsominion.
Juntamente com "O Jardim das Aflições" e "A Nova Era e a Revolução Cultural", "O Imbecil Coletivo" compõe o que o autor chamava de "obras de combate". Todos venderam muitíssimo, contaminaram muita gente.
Se Olavo pariu a extrema direita, a grande mídia ajudou a partir Olavo. Nos anos 80 ele já escrevia artigos e colunas em jornais como O Globo, Zero Hora e Folha de S. Paulo. Ao longo dos ano 2000 ele ampliou sua pregação contra a esquerda e o tal marxismo cultural. Com a mudança para os Estados Unidos e o advento da Internet e das redes sociais, fidelizou uma base de seguidores no Brasil.
De Bolsonaro e seus filhos ele foi não apenas guru. No início do governo ele foi uma verdadeira eminência parda, com perdão dos pardos, entre os quais me incluo.
Ao indicar Ernesto Araújo para o Itamaraty, tornou-se corresponsável por todos os danos sofridos pela nossa política externa.
Não só pela deterioração da imagem internacional do pais, mas por prejuízos reais. Ainda na semana passada homens do agronegócio queixavam-se a Lula dos danos sofridos com as agressões à China, especialmente na era Araújo.
Ele ainda indicou dois perniciosos ministros da Educação, Vélez e Weintraub, por sinal agora críticos de Bolsonaro. Como Olavo, eles também não gostaram do casamento com o Centrão, que tirou espaço de expoentes ideológicos como eles.
Apesar dos lamentos de Bolsonaro e filhos, Olavo já não tinha a mesma influência no governo. Viviam aos tapas e beijos. Mas a morte do guru é um prenúncio bom. Neste verão, o inverno político está passando.
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