Por Moisés Mendes, em seu blog:
O que irá sobrar de Sergio Moro, depois da completa desintegração da sua imagem, talvez seja um advogado alquebrado. Não teremos quase mais nada do ex-juiz, ex-ministro da Justiça, ex-quase ministro do Supremo, ex-consultor da Alvarez & Marsal e ex-candidato a candidato a presidente.
Sergio Moro deve estar carregando nas costas um fardo de arrependimentos. Não deveria ter sido ministro de Bolsonaro, mesmo que sua participação no governo fosse parte da compensação pela estrutura montada para encarcerar Lula.
Não deveria ter saído do governo, depois de fracassar como protetor dos filhos de Bolsonaro, e assumir num pulo a função de garoto-propaganda da consultoria.
Não deveria ter aceito como natural a candidatura a presidente, não sabendo nada da política que ele mesmo desqualificou por mais de cinco anos no lavajatismo.
Não deveria ter se reunido com Mamãe Falei como quem se reúne com um líder nacional. Não deveria ter visitado Joaquim Barbosa, para não ter que ler depois que havia sido inconveniente e oportunista.
Não deveria ter desafiado os juristas do Grupo Prerrogativas. E tampouco deveria ter tentado mudar o timbre da voz, porque a preocupação com a entonação mais grave o deixa inseguro, como mostram os vídeos mais recentes.
É complicada a situação do ex-juiz suspeito. Bolsonaro levou Moro para o governo porque sabiam que seriam aplaudidos por latifundiários, empresários, jornalistas, pastores, banqueiros, militares, garimpeiros, grileiros e milicianos.
Mas a consultoria deveria ter procurado Sergio Moro com tanta pressa? Estava tudo acertado e nada poderia ser adiado?
Que empáfia é essa da empresa americana que correu o risco de atrair Moro logo depois do juiz suspeito ter saído do esquema de Bolsonaro? Por que não esperou um pouco?
Uma determinação do ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), permite acesso às informações da relação da Alvarez & Marsal com Moro.
Quanto o juiz ganhou? Em quantos processos de recuperação judicial a consultoria atuou no tempo da Lava-Jato? Houve promiscuidade?
Moro deveria mesmo ter ido trabalhar para a empresa agora cercada pelo TCU? A soberba era tanta que, para os americanos, haveria sempre vantagem no fato de que o xerife do moralismo seria mostrado no seu portfólio como o grande craque.
Por que Moro foi trabalhar com tanto empenho e exposição para a Alvarez & Marsal, expondo uma relação suspeita que pode agora configurar crime grave?
É muito difícil arranjar explicação. Não há casualidade no fato de que Moro quebrou empresas que a consultoria ajuda a salvar, e a Odebrecht é a principal delas.
Num mundo normal, Moro não poderia ter sido protagonista dessa sequência de negócios com Bolsonaro e com a consultoria. Mas não há mais mundo normal.
O ex-juiz achou que com ele não aconteceria nada. Mas vai acontecer. A Lava-Jato já foi triturada pelo Supremo. Ele também será pulverizado por suas atitudes na Lava-Jato e pelas barbeiragens cometidas depois.
O ex-juiz tem um grave déficit de percepção da realidade, ou não cometeria tantos erros. Os desastres comprovam que Moro e Deltan Dallagnol não eram os melhores para fazer o que fizeram.
Eles eram os mais aptos, porque mais impulsivos e simplórios. Fizeram o que outros servidores do Ministério Público e do Judiciário se negariam a fazer por respeito ao que é correto e legal.
Os dois foram os mais aptos para avançar sem freios, pisotear leis, normas e regras e seguir sempre em frente, fazendo o jogo da direita sem temer nada e ninguém.
Sergio Moro foi a mais perfeita aberração do Judiciário brasileiro, porque evoluiu sob os aplausos dos que deveriam rejeitá-lo como herói e justiceiro. Está aí, quase abandonado pela própria direita, sem votos, sem perspectivas e sem turma fixa.
A turma do Podemos é temporária e só o acolheu por achar que ele teria alguma utilidade. Já é certo que não terá utilidade alguma. Tanto que a bancada do partido se prepara para largá-lo no acostamento.
Sergio Moro candidata-se hoje a ser ex-candidato a candidato a presidente. Depois, será o quê?
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