Por Bepe Damasco, em seu blog:
Uma gama enorme de institutos de pesquisas eleitorais vem inundando o mercado da política. Acostumados que estávamos com Datafolha, Ibope, Vox Populi e mais uns dois ou três menos conhecidos, agora são dez os institutos fazendo pesquisa de forma regular desde o ano passado.
Encomendadas por diferentes empresas, especialmente do mercado financeiro, não há uma semana em que não sejam divulgados números sobre a corrida eleitoral para a presidência da República e a popularidade do governo Bolsonaro.
Uma boa parte desses institutos faz pesquisa não presencial, por telefone. Mas, e o grau de confiabilidade dessa metodologia? Com a palavra, dois especialistas ouvidos pelo Jornal Valor ainda em 2018 quando começaram a pipocar as primeiras pesquisas realizadas por telefone:
Duílio Novaes (presidente da Abesp – Associação das Empresas de Pesquisa Eleitoral) – “Os levantamentos e coletas de opiniões realizados por meio de ligações telefônicas para pesquisas eleitorais não são recomendadas para este fim, pois nem sempre retratam com fidelidade a percepção real da maioria dos eleitores.”
Mauro Paulino (diretor geral do Datafolha) – Paulino reconhece que pesquisas feitas por telefone são válidas para investigar imagem de produtos de mercado ou opiniões de públicos selecionados, mas “tem muitas limitações” para retratar disputa eleitoral. Segundo ele, a principal é a impossibilidade de apresentar um cartão de resposta com o cardápio de candidatos aos entrevistados. “O cartão é um instrumento básico”, diz. “Sem isso não dá para estimular adequadamente.”
Diante de um cenário em que a babel de pesquisas pode ser utilizada como instrumento político-eleitoral de maneira jamais vista, compartilho um rápido levantamento que fiz na internet acerca desses institutos e empresas contratantes, suas respectivas metodologias e outras informações publicadas na imprensa sobre eles.
Datafolha – Pertence ao jornal Folha de São Paulo. Diretor: Mauro Paulino. Metodologia : presencial.
Ipec – Fundado por sócios do antigo Ibope. Diretora: Márcia Cavallari. Metodologia: presencial.
Quaest – Faz pesquisas em parceria com o banco de investimento Genial. Metodologia: presencial.
Ipesp – Instituto pernambucano contratado pela XP Investimentos para realizar pesquisas, o Ipesp é dirigido pelo sociólogo e empresário Antonio Lavareda. Metodologia: telefone.
Vox Populi – Dirigido pelo sociólogo mineiro Marcos Coimbra. Metodologia: presencial.
Poder Data – Propriedade do site jornalístico Poder 360, dirigido pelo jornalista Fernando Rodrigues, com longa passagem pela Folha de São Paulo. Segundo notícia veiculada pelo Portal 247, o Poder 360 recebeu recentemente um aporte financeiro milionário do empresário Frederico Trajano, um dos sócios do Magazine Luiza. Metodologia: por telefone.
Big Data – Contratada pelo banco de investimento Ideia, o instituto foi fundado pelo economista Maurício Moura, professor da Universidade George Washington. Metodologia: telefone.
Futura – Faz pesquisas por encomenda da Modalmais, plataforma de investimento do Banco Modal. O Futura é um instituto capixaba, controlado por grandes empresas do Espírito Santo. Metodologia: telefone.
Paraná Pesquisas – Seu proprietário é Murilo Hidalgo de Oliveira, acusado pelo Ministério Público de São Paulo de lavagem de dinheiro. Metodologia: presencial.
MDA – Faz pesquisas para a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Diretor: Marcelo Souza. Metodologia: presencial.
É importante deixar claro que não jogo no time dos que desprezam as pesquisas eleitorais. Tampouco me alinho entre aqueles que valorizam as sondagens quando elas trazem resultados animadores e positivos para seus partidos e candidatos, mas veem manipulação sempre que os números são negativos. Pessoalmente, me guio pelos institutos mais tradicionais, com nome a zelar no mercado. Mas existem institutos e institutos, com maior ou menor credibilidade, bem como alguns que são capazes de erros e manipulações grosseiras.
Como não suspeitar, por exemplo, de uma sondagem de intenção de voto do Paraná Pesquisas feita há poucos dias do segundo turno de 2014, na qual Aécio aparecia com 60% e Dilma com 40%? Ou das pesquisas do Datafolha e Ibope realizadas nas vésperas das últimas quatro eleições na Bahia, as quais apontavam a vitória dos adversários do PT no primeiro turno, mas quem venceu no primeiro turno foram os candidatos petistas Jaques Vagner e Rui Costa?
Voltando para os dias que correm, foi de doer ver a exasperação, na semana passada, de militantes, figuras públicas importantes da esquerda, e até da mídia contra-hegemônica, ante o resultado de uma pesquisa telefônica do Poder Data, na qual Lula sequer caiu. Abre parênteses: o Poder Data desde sua primeira pesquisa confere 30% das intenções de voto a Bolsonaro, coisa que nenhum outro instituto corrobora. Fecha parênteses.
E pior ainda: choveram no campo progressista análises sem pé nem cabeça dos números da pesquisa do Ipesp, igualmente feita por telefone e só no estado de São Paulo. Gente boa e experiente endossou a seguinte maluquice, autêntica mistura de banana com jaca: se os índices de Lula em São Paulo são menores do que a pesquisa nacional, logo Lula está em queda nas pesquisas. Meu Deus!
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