Por Paulo Moreira Leite, no site Brasil-247:
Embora o sequestro e assassinato do prefeito de Santo André, em 2002, tenha provocado especulações e suspeitas de toda natureza sobre possíveis mandantes do crime nos meses que se seguiram ao crime, duas décadas depois o caso parece bem resolvido pelas autoridades responsáveis.
Num esforço inédito de investigação, a polícia civil de São Paulo realizou quatro inquéritos, conduzidos por equipes diferentes, que seguiram linhas de apuração distintas, para chegar à mesma conclusão.
Celso Daniel, uma das mais promissoras lideranças da geração de jovens políticos que fundou o Partido dos Trabalhadores, foi vítima de um crime comum, cometido por uma quadrilha da periferia de São Paulo, num ano em que o número de sequestros com ou sem vítimas fatais crescera 168% em relação a 2001 e 633% em comparação com 2000.
Acompanhando as investigações por determinação do presidente Fernando Henrique Cardoso, a Polícia Federal seguiu os trabalhos de perto e concluiu igual.
Mesmo assim, demonstrando uma rara disposição para reexaminar um trabalho já terminado, a polícia de São Paulo tomou uma atitude inédita.
Atendendo a uma solicitação do Ministério Público, concordou em refazer a investigação a partir do zero, escalando uma outra equipe policial, escolhida pelos procuradores para passar o serviço a limpo. As conclusões foram idênticas mas o caso não seria encerrado assim.
Geraldo Brindeiro, o Procurador Geral da República do governo FHC, proprietário de conhecida letargia para promover investigações que podiam prejudicar o PSDB, bateu às portas do STF para formular uma denúncia contra o Partido dos Trabalhadores.
O calendário marcava agosto de 2002 e Brindeiro pretendia marcar o julgamento para as semanas seguintes, quando os debates iriam coincidir com a campanha presidencial onde Lula já apontava como favorito.
O caso caiu com Nelson Jobim, indicado por Fernando Henrique para o STF, amigo pessoal do candidato tucano José Serra, que mandou arquivar o pedido, deixando claro que não passava de "denuncismo."
Vinte anos depois da morte de Celso Daniel, a tese de crime encomendado se apoia nas opiniões dos membros do ministério público que assumiram o caso há duas décadas, em irmãos e familiares do ex-prefeito, além de empresários do ABC paulista com interesses na prefeitura.
Faltam fatos e provas.
O problema de "O Caso Celso Daniel reside aqui. O seriado nivela os fatos apontados pela polícia civil paulista - jamais suspeita de simpatias petistas - com as opiniões de familiares do prefeito, que possuem um compreensível peso emocional.
Mesmo assim, o equilíbrio não é perfeito, como sempre acontece.
Embora seja um fato especialmente relevante para sustentar a fraqueza das suspeitas contra o Partido dos Trabalhadores, o vexame da denúncia no STF não merece nenhum destaque.
Ao dar peso igual para versões de natureza diferente, que produzem empatia diferente, o seriado alimenta questionamentos e suspeitas que servem para colocar em dúvida as conclusões da polícia sobre o caso - sem apresentar um único fato novo.
Exibido ao longo de uma campanha presidencial decisiva para os rumos do país, vale perguntar: a quem serve ?
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