domingo, 27 de março de 2022

Os pastores que os jornalistas não viam

Charge: Brum
Por Moisés Mendes, em seu blog:


Se o próprio Milton Ribeiro não tivesse aberto a boca grande para fazer média com os pastores traficantes de verbas do MEC, tudo estaria numa boa até hoje.

Nessas circunstâncias em que o criminoso é o delator, é de se perguntar como a imprensa não sabia que o tráfico de verbas dos homens de fé existia há muito tempo?

Por que só agora a Folha conta que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura tinham até um QG em um hotel de Brasília para negociar com prefeitos a liberação de verbas em troca de ouro e propinas?

Os pastores eram há muito tempo atravessadores que intermediavam a liberação de dinheiro, a mando de Bolsonaro, mas só foram descobertos agora, no último ano do mandato de Bolsonaro?

A Folha conta, em reportagem de Paulo Saldaña, que os pastores mobilizavam servidores do MEC e atraíam, além de prefeitos, funcionários e emissários de prefeituras do todo o país. As reuniões eram no Hotel Grand Bittar.

Porteiros, recepcionistas, camareiras, garçons, todos sabiam. Até as samambaias sabiam. Menos os jornalistas.

Mas só descobriram agora? Se Ribeiro não tivesse sido grampeado e a conversa não tivesse vazado, é certo que os encontros dos negociadores de verbas continuariam.

Noticiam também que Bolsonaro vai segurar Ribeiro, apesar dos crimes cometidos. Ora, Weintraub, Ricardo Salles, Pazuello e agora Ribeiro agiam e agem a mando de Bolsonaro.

Mas as notícias nos jornais dão a entender que Bolsonaro precisa se livrar de Ribeiro, porque ele é quem fazia o que bem entendia com os pastores das verbas traficadas e das barras de ouro.

O próprio Ribeiro disse que atuava sob as ordens de Bolsonaro, como também obedeciam ordens os ministros já demitidos por confusões e rolos na educação, ambiente e saúde.

Mas será que acontecerá com os traficantes de verbas do MEC o que aconteceu com os traficantes de vacinas no Ministério da Saúde? Ou seja, nada. É provável que todos escapem.

Racha no peronismo

O pavor das esquerdas na Argentina não é com os ataques sistemáticos da direita que virou extrema direita. É com as brigas internas no governo entre os grupos de Alberto Fernández e de Cristina Kirchner.

Brigas previsíveis, desde o início do governo, mas que assumem uma dimensão preocupante.

O consolo para as esquerdas é que a manifestação desta semana em memória de assassinados e desaparecidos da ditadura levou mais de 50 mil pessoas às ruas de Buenos Aires.

Recurso contra a toalha

Parece brincadeira, mas o PL, que ninguém sabe que é o partido de Bolsonaro, recorreu ao TSE para que nenhum artista erga nos palcos do Lollapalooza aquela toalha com a imagem de Lula, porque isso caracterizaria propaganda eleitoral.

O PL teme que outros artistas repitam o que Pabllo Vittar fez no seu show, quando gritou um Fora Bolsonaro e depois desfilou com a já famosa toalha com a figura de Lula.

É complicada a situação do bolsonarismo. Alguém já viu um sertanejo desses que gritam bastante gritar Fora Lula num show? Eles teriam o peito de gritar?

Enquanto isso, Bolsonaro continua fazendo passeios de moto com tiozões do zap, como aconteceu nesse sábado em Ceilândia.

Será mesmo?

Uma pergunta incômoda, mas que não pode ser escamoteada: por que parte da esquerda brasileira continua achando que Putin é o último moicano?

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