terça-feira, 12 de abril de 2022

Lula pensou em Alckmin por ‘governança’

Foto: Ricardo Stuckert
Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

A aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para compor a chapa que disputará a presidência da República repete a estratégia de 20 anos atrás, quando o vice da chapa vencedora foi o empresário José Alencar.

“Sem entrar no mérito, a tentativa de Lula de ampliar apoio à sua direita, pelo mercado, já vem de 2002. A grande novidade é o nome ser Alckmin, velho adversário dele e do PT em são Paulo”, diz o cientista político e ex-presidente do PSB histórico, Roberto Amaral.

“Mas tenho impressão de que Lula pensou em Alckmin, um homem conservador, de uma ‘direita civilizada’, como se diz, no momento em que achou que sua eleição era provável. Lula está justamente preocupado com a governança. Ele sabe que vai ter, mais do que no primeiro governo, grandes dificuldades. A aproximação e atração do Alckmin não tem nada a ver com o processo eleitoral”, avalia Amaral.

A indicação de Alckmin como vice do petista foi feita hoje pelo PSB. O anúncio oficial da pré-candidatura da chapa está previsto para 30 de abril.

Conservadorismo

Para Amaral, as dificuldades não serão pequenas, sob vários aspectos. E o pragmatismo de Lula leva em conta esses fatores.

Se seu primeiro mandato, iniciado em 2003, já enfrentou conspirações e ataques mesmo com a “Carta Ao Povo Brasileiro” (2002) e um ministério com conservadores em postos chave, em 2023 haverá novos elementos.

“De lá para cá houve o acirramento da direita e uma organização da direita que nós não tínhamos. Houve a politização das Forças Armadas e há ainda a resistência da Faria Lima”, constata o ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Lula, em referência à avenida símbolo do mercado financeiro.

No primeiro governo, Lula nomeou para o Banco Central um banqueiro do BankBoston (Henrique Meirelles); no ministério da Indústria e Comércio, um sócio da Sadia (Luiz Fernando Furlan); no Ministério da Agricultura, um homem do agronegócio (Roberto Rodrigues).

“E mesmo assim ele sofreu pressões gravíssimas e quase foi deposto em 2005. Ele sabe que o quadro é mais difícil agora”, diz o ex-presidente do PSB, lembrando o ano em que explodiu o escândalo midiático do chamado mensalão.

Cenário internacional sombrio

Além do quadro interno, Roberto Amaral destaca o obscuro cenário internacional, que no primeiro governo Lula era extremamente favorável, política e economicamente, com o boom das commodities.

“Hoje, o cenário, na melhor das hipóteses, é uma brutal incógnita. Podemos acordar amanhã, ver os jornais e saber que estamos numa guerra mundial”, diz, sobre a imprevisibilidade da crise deflagrada com a guerra da Rússia com a Ucrânia.

Com tudo isso, a aproximação do que se chama de “direita civilizada” simbolizada por Alckmin é um “ato inteligente”, para Amaral. Entretanto, ele pondera: “se vão funcionar as ligações de Alckmin com a Faria Lima e o sistema financeiro, que é internacional, tudo isso é incógnita”, opina.

Em sua fala ao lado de Alckmin, pela manhã, Lula já indicou ter clara consciência de todo esse cenário.

“Se a chapa for formalizada, não é só para disputar as eleições. Talvez ganhar as eleições seja mais fácil do que a tarefa que teremos pela frente para recuperar esse país”, previu Lula, dirigindo-se ao agora “companheiro Alckmin”.

“Soma de esforços”

Em seu discurso, Alckmin falou que “a política não é uma arte solitária”.

“A força da política é centrípeta. Nós vamos somar esforços para a reconstrução do nosso país”, acrescentou o ex-governador.

Ele também criticou o governo Bolsonaro.

“É lamentável, presidente Lula, eu que entrei na vida pública como o senhor lá atrás para redemocratizar o Brasil, nós termos hoje um governo que atenta contra a democracia e atenta contra as instituições”.

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