Há quase 70 anos, na sua carta-testamento, Getúlio Vargas dizia que a criação da Eletrobras ” foi obstaculada até o desespero” pelos mesmos que queriam impedir a instalação da Petrobras, os que “não querem que o povo brasileiro seja livre”.
Éramos o país da falta de luz, das indústrias que não se podiam instalar por falta de energia, fomos, até pouco tempo atrás, um país com seus rincões do interior mergulhado na escuridão das noites apagadas, porque levar a luz para todos não era lucrativo e a distribuição de energia, já desde FHC, foi entregue à iniciativa privada.
Foi o poder público, no Rio São Francisco, nas gargantas de Minas Gerais, nos mares de Itaipu e Tucuruí, não sem um custo ambiental que hoje é inaceitável, quem tocou e pagou tudo isso, como também a imensa malha de transmissão que equivale quase a 4 voltas completas no planeta.
Em cerca de 30 anos – e em 20 deles via Eletrobras – fomos dos países que mais ampliou sua capacidade de geração de energia elétrica.
E de energia, para o que se tinha àquela altura, a mais limpa, a de origem hidráulica.
Reconheça-se, por justiça, inclusive com a prioridade que militares, à época, davam à eletricidade como pilar básico do desenvolvimento, e não à compra de próteses e estimulantes.
Quando estagnamos, o fizemos porque o Estado perdeu sua capacidade de investir, a qual só recuperaria, já em outros marcos, em que agregava a iniciativa privada, depois da crise do apagão do período Fernando Henrique Cardoso.
Voltamos a uma situação-limite, na qual só as boas chuvas deste início de ano nos tiraram de um sufoco que foi grave no fim de 2021 e que se refletiu nos altíssimos preços da energia.
Estamos entregando os meios técnicos e empresariais para que o Estado possa nos tirar deste quadro por uma merreca e, pior, deixando sequestrada por 30 anos de concessão, quase um quarto de toda a nossa capacidade de geração elétrica e metade, praticamente, das redes de transmissão, tão essenciais quanto as usinas.
Às pressas, a toque de caixa, com o Governo bufando no cangote do Tribunal de Contas, que passou por cima de uma série de inconsistências e maracutaias no modelo de privatização, uma parte delas clara e inutilmente exposta pelos ministro Vital do Rego, ignoradas por seus colegas com argumentos de que “o mercado se encarregará de dar valor real” aos ativos.
Ninguém explica porque empresários pagarão mais caro que se pede para que nos possam fornecer energia mais barato.
Faz-se-o no final de um governo rejeitado, desmoralizado, que não tem qualquer outro compromisso com o país senão o de chegar, com a água pelo pescoço, ao momento em que possa conseguir continuar, seja ou não pela vontade das urnas.
Há poucas esperanças que o processo seja travado pelo Supremo Tribunal Federal, porque é assim com tudo o que se imola ante o bezerro de ouro da privatização.
É por isso que o empresariado brasileiro, que não seria capaz de contratar Jair Bolsonaro para o almoxarifado de suas empresas, aplaude que ele seja o dirigente do país. O que pretende a todos é, impiedosamente, queimado, torrado, liquidado, a preço de bananas por alguém que, como ele, nos considera uma República de Bananas.
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