Charge: Guto Respi |
Confesso que meu masoquismo me levou a perder pouco mais de dezoito minutos para acompanhar neste sábado 25 de junho a fala de Jair Messias a seguidores dos autonomeados pastores evangélicos em Camboriú, Santa Catarina – talvez o mais bolsonarista dos estados brasileiros.
Eu esperava que ele fizesse alguma menção, qualquer que fosse, ao escândalo desatado por Milton Ribeiro, que foi seu ministro da Educação.
Achei que iria se referir a rumores, ou desmentir o tal aviso por telefone, dizer que de novo estava sendo perseguido, qualquer coisa.
Pois nem um pio.
Uma vez mais ele enfileirou frases sem nexo, afirmações absurdas, tornou a criticar países vizinhos, a defender o armamento desenfreado da população, atacou de maneira indireta e covarde o Supremo Tribunal Federal, ameaçou de novo um golpe de Estado.
E, claro, falou no Exército, recordou sua formação militar esquecendo de como foi chutado dos quartéis, citou versículos da Bíblia e falou em Deus.
O que mais chamou a minha atenção, porém, não foi a caravana de baboseiras expelida pela sua boca: foi o altíssimo grau de tensa falta de norte em tudo que ele falou.
Além do mais, foi como se longe dali não estivesse crescendo o escândalo relacionado com o novo crime cometido pelo presidente – tentar obstruir a Justiça, entre outros delitos – ao avisar Milton Ribeiro que ele seria alvo de uma medida de busca e apreensão levada a cabo pela Polícia Federal.
Numa conversa com a mulher, Ribeiro disse que por telefone Jair Messias falou do pressentimento de que isso aconteceria.
Com sua habitual e sólida pontaria certeira e contundente, a jornalista Helena Chagas expôs, numa frase curta e direta, um detalhe crucial: “Presidente não tem pressentimento, tem informação”.
Ela tem toda razão. E começam a surgir indícios bastante claros sobre a fonte dessa informação.
Jair Messias estava nos Estados Unidos quando ligou para Milton Ribeiro.
Da comitiva presidencial fazia parte o atual ministro da Justiça, o delegado da Polícia Federal Anderson Torres. Que, ao que tudo indica, teria sido avisado da operação pelo atual diretor-geral da mesma Polícia Federal, Márcio de Oliveira.
Afinal, ninguém se atreveria a realizar uma ação contra um ex-ministro que, entre outras qualidades, tem a de ser amigo da primeira-dama Michelle Bolsonaro, sem avisar ao ministro da Justiça.
O ar radicalmente desnorteado de Jair Messias em Camboriú traz maus presságios. Péssimos.
Se ele já vinha em degringolada carreira acentuando seu habitual desequilíbrio, sobrem motivos para que espere uma forte aceleração nesse quadro patético.
Jair Messias, encurralado, vai ser cada vez mais ameaçador.
Ninguém parece capaz de conter suas explosões.
E o país continuará sendo uma nau sem outro rumo que a profundeza de um poço que parece não ter fundo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: