Charge: Aroeira |
A notícia mais auspiciosa dos últimos dias foi a “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” e a mobilização em torno dela para coleta de assinaturas. A carta será lida em 11 de agosto na faculdade de Direito da USP e assinala os 45 anos de outro documento, lido no mesmo lugar e em momento bem mais difícil da vida nacional.
Em agosto de 1977, era preciso coragem para escrever e ler em público a “Carta aos Brasileiros”, como fez o jurista Goffredo da Silva Telles Jr. Por muito menos, a ditadura torturava e matava, e a chamada “linha dura” dos militares ameaçava com tempos ainda mais sombrios.
O fio da história amarra os dois documentos e evoca a coragem necessária em circunstâncias que definem o futuro de um país. A Carta atual fez algo se mover, espanou a letargia em que parte da sociedade civil parecia mergulhada, à espera de 2 de outubro, como uma data mágica. A derrota do herdeiro da “linha dura” nas urnas é importante, mas não é tudo.
Para expulsá-lo do poder e arrancar as raízes do bolsonarismo é preciso coragem para muito mais. Por exemplo, para não aceitar qualquer conchavo que dê a ele o foro privilegiado, como pretendem os que concebem uma indecência chamada PEC do senador vitalício. A reconstrução ética do Brasil não será possível sem que Bolsonaro seja julgado pelos crimes que cometeu. Bolsonaro precisa de uma Comissão Nacional da Verdade.
Também é preciso coragem e grandeza cívica para abrir mão de projetos político-partidários, por mais legítimos que sejam, e para admitir que o melhor para o país seria uma eleição decidida no primeiro turno. E em favor do candidato que representa o embate político minimamente civilizado e um esforço de pacificação social.
Este é o momento de saber quem vai sair da campanha eleitoral maior do que quando nela entrou. Para isso é preciso fazer política com sentido histórico, com os olhos no amanhã e nas próximas gerações. Vamos lá, coragem!
* Publicado originalmente na Folha de S. Paulo em 02/08/2022.
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