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Gaspard Estrada, na coluna que escreve no The New York Times, classificou certa vez o desgoverno de Bolsonaro de “distopia aparentemente sem fim”. Na ocasião, o cientista político, que avaliou as ações do presidente de extrema direita diante da pandemia, estava coberto de razão, pois as atrocidades continuaram.
Somente o atual mandatário, matreiramente, quer negar uma situação visível. Numa entrevista no mês passado, afirmou que ninguém passa fome no país: “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô”.
Ao ser questionado nesta quarta-feira (21), na série “Diálogo com Candidatos à Presidência do Brasil”, da Rede Vida, sobre a condição de o país ter voltado ao mapa da fome, Bolsonaro disse não ser verdade que 33 milhões de brasileiros passam fome. “Não é esse número todo”, esquivou-se.
O pior estava por vir. Culpou o próprio povo pelas condições de pobreza: “Os pobres são pessoas que foram ao longo dos anos acostumadas a não se preocupar, ou o Estado negar uma forma de ele aprender uma profissão”.
Ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello criticou as falas de Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, negando a fome. Negar as evidências não mudará a realidade. Tão pouco colocar ‘antolhos’ evitará que se deparem nas ruas com a tragédia social”, disse.
Para ela, em quatro anos eles não aprenderam nada, só restando o negacionismo. “Destruíram a estratégia brasileira de enfrentamento a fome e pobreza e construíram um programa mal desenhado. Por isso a fome está de volta. Com Lula vamos tirar o Brasil, novamente, do mapa da fome e reconstruir o país”, afirmou.
Quem conhece a trajetória de Bolsonaro sabe que por diversas vezes o preconceituoso presidente já declarou que os pobres são assim por “preguiça” e “falta de iniciativa”.
O jornalista investigativo Rubens Valente lembrou que Bolsonaro propaga absurdos como esse sobre os pobres há 30 anos, quando nem existia Bolsa Família. “Escrevi durante a campanha de 2018, após recuperar seus discursos na Câmara de Vereadores do Rio”, lembrou Valente, que numa postagem destacou a seguinte frase de Bolsonaro: “Pobre não sabe fazer nada”.
“Bolsonaro disse que pobres foram acostumados a não aprender uma profissão. É tosco, mas reflete um pensamento comum a uma parte da elite e da classe média que acredita que para resolver o problema dos pobres basta inventar profissão para eles”, observou Leonardo Sakamoto, colunista do UOL.
Para a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), Bolsonaro soltou uma de suas piores atrocidades e culpou os pobres pela pobreza. “Desumano e cruel, tem horror ao povo”.
Pesquisa
Enquanto isso, Lula vem surfando nesse segmento nas pesquisas eleitorais. O Datafolha, divulgado nesta quinta-feira (22), por exemplo, deu uma liderança com folga para o ex-presidente entre a maioria mais pobre do país. Ele obteve 57% das intenções de votos entre os eleitores que recebem até 2 salários mínimos. Bolsonaro tem 24%. O ex-presidente subiu cinco pontos e o atual caiu dois em relação ao último levantamento.
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