Roberto Parizotti/Fotos Públicas |
Para a ampla maioria dos brasileiros, termos como PIB, Caged, Selic e IPCA são abstrações, uma sopa de letrinhas sem grande significado.
Na prática, seus critérios para avaliar a melhora, ou piora, da economia são suas condições de vida: o carrinho vazio do supermercado, o subemprego, a situação de quem vive de bico - e ainda é chamado de “empreendedor” pelo governo - , a fome, a falta de acesso a serviços básicos como saúde e educação, por exemplo.
É por aí que se entende por que tem tudo para dar errado mais uma vez a nova onda da propaganda governamental em torno do crescimento trimestral de 1,2% do PIB e do declínio da inflação.
É o mais recente balão “agora vai” dos articuladores da campanha de reeleição de Jair Bolsonaro. Como os demais, tende a esvaziar e cair nas próximas pesquisas.
Indicadores de recuperação econômica costumam entusiasmar a mídia e setores que deles se beneficiam, ainda que a leitura completa do enredo mostre um crescimento artificial que dificilmente se sustentará em 2023, e um enorme rombo fiscal varrido temporariamente para debaixo do tapete.
Mas quem trabalha por Bolsonaro - ou, ao menos, por um segundo turno para dobrar a espinha de Lula - propaga a narrativa de que os números da economia ainda vão fazer o presidente crescer nas pesquisas e, quem sabe, permitir a sonhada virada no segundo turno.
Essa estratégia ignora a obviedade de que crescimento econômico, independentemente de números, só é digno desse nome quando alcança o país como um todo, ou seja, as camadas mais pobres da população, e de forma consistente.
Não é o que acontece quando a classe média pode festejar a economia na hora de encher o tanque do carro, mas os menos favorecidos continuam comprando alimentos muito mais caros no mercado - quando compram, porque não há notícia de mudanças na vida dos 33 milhões que vivem em estado de insegurança alimentar, um eufemismo para fome.
Nas atuais circunstâncias, a festejada recuperação econômica é um conto-do-vigário para os mais pobres.
Tudo indica que o discurso do "agora vai" trata-se, antes de tudo, de um teatro.
Os políticos do Centrão e demais articuladores do Planalto sabem, assim como a torcida do Flamengo, que são ínfimas as chances de a rejeição presidencial de 55% retroceder, mais ainda numa velocidade tal que permita ao atual presidente, nos 26 dias que faltam para o primeiro turno, ou mesmo nos 55 que restam até o segundo, passar de pato manco a favorito.
A diferença entre os dois principais líderes da corrida presidencial vem se reduzindo, sim, como era natural e esperado.
Mas, a se manter nesse ritmo, a boca do jacaré só se fecharia no ano que vem, depois da posse. Há chance concreta também de ser necessário um segundo turno, mas todas as projeções mostram vitória folgada do petista nessa rodada.
Dificilmente o clichê de que o segundo turno é uma nova eleição irá se confirmar em 2022.
Pelo andar da carruagem, Bolsonaro perderia hoje na segunda rodada até para Simone Tebet, conforme dados da pesquisa BTG/FSB desta segunda-feira.
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