Charge: Latuff |
Chego à rodoviária para comprar uma passagem. O rapaz que me atende mostra o mapa de assentos livres no ônibus e peço a ele: “Aperta o 13.” Recebo de volta um belo sorriso. Por alguns segundos, me senti integrante de uma rede secreta de resistência, que compartilha mensagens em código e estabelece uma súbita afinidade silenciosa entre dois estranhos.
Tenho participado, como jornalista e cidadã, de todas as campanhas para presidente desde 1989 e nunca tinha percebido, como percebo agora, o medo que faz muita gente se encolher, o temor que aprisiona, intimida, corrói, desagrega, ergue muros, por vezes, definitivos.
Nunca senti a necessidade de declarar preferências eleitorais e considero o voto secreto uma das maiores conquistas das democracias modernas. Mas a neutralidade é opção válida para circunstâncias de normalidade política e institucional. Não é o Brasil de 2022, onde o fascismo açula seus cães de guerra, fardados ou não, armados ou não.
Na Europa e nos Estados Unidos, muitos jornais anunciam suas escolhas eleitorais e nem por isso perdem credibilidade. Ao contrário, a transparência reforça o pacto de confiança entre os veículos e seus leitores. Pacto não escrito que se escora no exercício diário da integridade e da honestidade intelectual. O jornalismo é (ou deveria ser) trincheira da democracia. Sem ela, não existe jornalismo.
É hora de compromisso firme e sem ambiguidade com a paz social e com a democracia. Todos os que têm algum poder e influência política podem nos ajudar a sair, já no dia 2 de outubro, deste exílio em que nos lançamos a contragosto dentro das entranhas mais sombrias do país.
Fernando Henrique pode melhorar a nota que escreveu. Onde está José Serra? Simone Tebet pode lustrar a biografia. Ciro Gomes, que pena, deu-se a cochichos que desonram sua trajetória. Mas ainda restam seis dias. De minha parte, desejo a todos o voto da coragem para que o Brasil deixe de ser um sonho vago e vazio. Esse voto é em Lula.
* Publicado originalmente na Folha de S. Paulo em 27/09/2022.
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