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Num país incapaz de acertar as contas de uma pesada herança escravocrata, é bom prestar atenção nos movimentos finais do bolsonarismo em seu esforço para interromper a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva e impedir de qualquer maneira uma provável vitória no segundo turno.
Vamos olhar o essencial. Dados do Ministério Público do Trabalho informam que entre 2018 e 2022, as denúncias contra empresas que, através de artifícios variados, tentam impedir seus trabalhadores de exercer o direito constitucional de escolher o presidente da República sofreu uma elevação gigantesca, da ordem de 40%.
Foram 212 casos no pleito passado, contra 294 até agora -- em registros oficiais que, como é sabido, apresentam uma pequena parcela do mundo real.
“Há uma normalização, uma banalização, do assédio nestas eleições”, denuncia José de Lima Ramos Pereira, procurador-geral do Ministério do Trabalho (Estado de S. Paulo, 17/10/2022).
Último país da América a abolir a escravatura, o país acumulou um legado terrível no controle do direito de voto - garantia básica dos direitos políticos em qualquer país, como sabemos.
A Constituição de 1824, a primeira após a Independência, não só proibia o voto da imensa massa de escravizados, mas também vetava os direitos políticos de brancos pobres e remediados.
Apenas para participar de eleições indiretas, onde eram escolhidos candidatos a deputado e senador, era preciso comprovar uma renda média de 100 mil réis. Para candidatar-se a um cargo eletivo a renda mínima era 200 mil réis e, para disputar uma cadeira de deputado ou senador, exigia-se 400 mil réis.
Com regras tão excludentes, que reproduziam uma desigualdade estrutural nascida no Brasil-Colônia, não é de surpreender a longa persistência de uma herança de exclusão e miséria.
Ainda que ao longo da história a luta de brasileiras e brasileiros tenha sido capaz de garantir conquistas e avanços memoráveis, num progresso que nem é preciso mencionar aqui, a aliança criminosa de empresários e Bolsonaro mostra qual é o plano: restaurar o poder colonial na economia, na sociedade e na vida de todo dia, num retrocesso gigante, nunca visto desde o desembarque das caravelas de Cabral em nosso litoral.
Alguma dúvida?
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