Por Gilberto Maringoni
Acabo de receber um livraço, que põe a nu as concepções das Forças Armadas para o futuro do Brasil.
Trata-se de “Comentários a um delírio militarista”, organizado pelo historiador Manuel Domingos Neto, um dos maiores especialistas no assunto em nosso país.
O objeto da crítica é o documento intitulado “Projeto de Nação – o Brasil em 2035”, resultado de uma parceria entre um certo Instituto Sagres e entidades como o Instituto Federalista e o Instituto General Villas Boas (sim, o escroque autor do famoso tuíte ameaçando o STF, em 2018).
O tal trabalho, lançado com pompa e circunstância em maio último, é tido pela extrema-direita como a oitava maravilha do mundo. Trata-se de um arrazoado de 100 páginas, disponível na internet.
O conjunto não passa de um amontoado de lugares-comuns conservadores, frágil em termos teóricos e conceituais e pedestre nas análises.
Ao longo de suas páginas, não há propostas para a superação de nenhum de nossos problemas urgentes, como desenvolvimento, soberania, desigualdade social, emprego, renda, racismo, machismo, preconceitos sexistas e tantos outros.
Avultam sugestões estapafúrdias como cobrança dos serviços do SUS e das Universidades públicas.
A leitura exibe a péssima formação cultural do oficialato brasileiro e suas formulações estratégicas dignas de manuais da Guerra Fria.
Os fardados não abrem mão de colocar a mediocridade sempre no posto de comando.
“Comentários a um delírio militarista” mostra, sem panfletarismos e com rigor metodológico, o caráter autoritário de uma obra nada nacionalista, cuja meta é perenizar o caráter periférico e primário exportador do país.
Os artigos do livro são de autoria de um time de craques.
Entre outros, lá estão Ana Penido, Cristina Serra, Eduardo Costa Pinto, Ennio Candotti, Francisco Carlos Teixeira da Silva, João Pedro Stédile, João Quartim de Moraes, José Genoíno, José Gomes Temporão, Juliane Furno, Luiz Eduardo Soares, Luiz Martins de Mello, Marcelo Godoy, Marcelo Pimentel, Marcio Pochmann, Michel Misse, Piero Leirner, Roberto Amaral, Walter Cintra Ferreira Júnior e este que vos fala.
P.S. 1. - Sei que é meio cabotino elogiar trabalhos que contam com a nossa participação, mas deem o desconto, por favor. O livro é bom demais.
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