Coube a José Roberto Afonso, maior especialista em política tributária do país – funcionário aposentado do BNDES e professor do IDP em Portugal – o feito de desmascarar uma chantagem usual, da qual se vale o Banco Central para firmar seu poder.
As afirmações foram feitas em entrevista ao jornal Valor Econômico.
O autor, no caso, foi Roberto Campos Neto, presidente do BC. Recentemente, em um evento, Campos Neto alertou para os riscos fiscais do país.
Simultaneamente, o presidente do BTG-Pactual, André Esteves, alertou para o risco do investidor desistir de adquirir títulos públicos.
Sobre Campos Neto, o julgamento foi duro: “Espero que tenha sido um momento de amnésia temporária (de Campos Neto). Já que não tem Ministro da Fazenda, espero que ele tenha se confundido e esquecido que é presidente do BC”.
De fato, o papel que se esperaria de um presidente do BC seriam palavras para acalmar, e não alarmar o mercado.
Segundo Afonso, além dos US$ 350 bilhões de reservas cambiais, o caixa do Tesouro, em reais, é de R$ 1,5 trilhão, correspondendo a 17% do PIB.
“Não consigo entender como um governo que tem um caixa desse tamanho possa ter crise”, continuou Afonso.
“Temos que fazer uma correlação entre política fiscal e política monetária, entre o BC e o Tesouro. O BC tem autoridade técnica e moral para conduzir essas políticas, mirar a inflação e acionar os instrumentos”.
A irresponsabilidade é maior porque há um vácuo de poder na área econômica, Já o BC tem autonomia e controle na área monetária.
Com as reservas em dólares e reais, qualquer crise fiscal seria facilmente debelada.
“Se o Tesouro vai renovar os papéis e a taxa de juros está muito alta, não precisa renovar. Saca o caixa e resgata o papel”, diz ele. Outra providência:
“A curva de juros abriu muito no longo prazo, o Tesouro pode ir ao mercado e recomprar o papel longo”.
Além das reservas cambiais e das reservas do Tesouro, ainda se tem os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
Somando tudo, o governo teria R$ 2 trilhões para enfrentar a especulação de curtíssimo prazo em torno do risco fiscal.
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