Foto: Ricardo Stuckert |
Em política, o importante é controlar a pauta. Com todas as dificuldades criadas pela relutância dos bolsonaristas/golpistas - e do próprio Jair Bolsonaro - em aceitar sua eleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega ao terço final de uma transição difícil com as rédeas do processo político nas mãos.
A cerimônia de diplomação e a própria posse podem inspirar cuidados do ponto de vista da segurança, e toda a atenção será pouca nos dois momentos.
Mas, com sua República da transição instalada no CCBB e gerando fatos e noticias no último mês, e agora com os primeiros anúncios ministeriais, o governo Lula, na prática, já começou. Ocupou os espaços institucionais, políticos e midiáticos e agora controla a pauta.
A reação ao anúncio de seus cinco primeiros ministros, nas pastas consideradas de Estado, mostra isso. Fora reclamações sobre a ausência de mulheres e afrodescendentes nessa primeira leva - o que certamente será corrigido nas próximas - foi uma operação para lá de bem sucedida.
A reação ao anúncio de seus cinco primeiros ministros, nas pastas consideradas de Estado, mostra isso. Fora reclamações sobre a ausência de mulheres e afrodescendentes nessa primeira leva - o que certamente será corrigido nas próximas - foi uma operação para lá de bem sucedida.
O novo governo, que já era um fato consumado na transição do Banco do Brasil, agora tem cara. E um fulanograma de primeira linha em seu núcleo duro. Fernando Haddad, Flavio Dino, José Múcio, Rui Costa e Mauro Vieira atendem tanto a necessidades conjunturais - por exemplo, a de pacificação militar-policial antes da posse - quanto estruturais, já que estão entre os melhores nomes que poderiam ser recrutados no plano político-institucional para reconstruir a administração desmantelada por Bolsonaro.
Bolso quem? Bolsonaro, por suas atitudes no pós-eleitoral, é hoje um zumbi a arrastar correntes no Alvorada - que precisa passar por uma varredura e, sobretudo, uma benzedura antes da chegada de seu novo ocupante.
O derrotado saiu da eleição com o grande patrimônio de 49% dos votos, mas esse eleitorado vai se esfarelando e sendo apropriado por outras lideranças da direita que aceitaram o resultado do pleito e vão continuar jogando o jogo da normalidade.
Lula tem pela frente o enorme desafio de desativar a máquina de fazer mentiras do bolsonarismo, que continuará ativa e com grande capilaridade. Mas é possível supor que a hegemonia dessa rede do ódio comece a ser disputada por outras forças.
Em algum tempo, os 49% supostamente bolsonaristas podem se dispersar no apoio a líderes diversos do centro e da direita, e o bolsonarismo-raiz acabar do tamanho que muitos cientistas políticos acham que tem: menos de 20% do eleitorado. Ou menos ainda, se Lula continuar fazendo direitinho a disputa política e liderar um bom governo.
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