Ilustração: Hiroto Morais (Brasil) |
Neste final de 2022, a contradição se acentua entre os recentes governos progressistas que assumiram na América Latina e as tentativas de desgaste, golpismo e pressão por parte dos poderes legislativos, judiciário, mídia empresarial, extrema-direita e frações conservadoras e neoliberais da burguesia em cada país.
O quanto cada um dos episódios de ações golpistas está articulado e tem ligação com o governo dos EUA, tempo e investigação suficiente podem dizer. Em dez dias, no entanto, acompanhamos a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, sofrer mais um capítulo de perseguição judicial. Condenada a seis anos de prisão no dia 6 de dezembro, além disso Cristina ficaria inelegível e sem possibilidade de disputar as próximas eleições do país, quando seria o principal nome do peronismo com vínculo e influência popular.
No Brasil, bolsonaristas organizaram verdadeiros atos de terrorismo, no mesmo dia quando o presidente eleito Lula foi diplomado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o que indica que, sem punição aos crimes do neofascismo e forte convocatória popular, esses segmentos seguirão mobilizando-se, sem pauta e pela instabilidade institucional.
Mobilização popular no Peru
Numa verdadeira crônica de um golpe anunciado, após um ano de pressão por parte do congresso do país e duas tentativas anteriores de impeachment, o presidente peruano, Pedro Castillo, foi destituído do governo e encontra-se preso, o que desencadeou uma forte mobilização nas ruas, sobretudo nos estados com forte mobilização camponesa e popular - Cusco, Puno, Arequipa e Apurímac, localidades onde os aeroportos estão fechados pelos protestos, além de La Libertad e Cajamarca.
O Peru profundo, dos textos de César Vallejo, vai às ruas e em protesto. Em que pesem decisões equivocadas de Castillo em seu percurso, o sentimento é de que a elite peruana não permitirá a aplicação de pautas populares e antineoliberais, derrubando qualquer candidatura vinculada à classe trabalhadora.
A pauta da agenda de protestos é a liberdade de Castillo, dissolução do atual congresso e adiantamento das eleições gerais do país, previstas para 2024. Ao lado dessas medidas, ressurge a pauta da assembleia Constituinte. Até o momento, nove pessoas foram mortas nos protestos e 71 estão detidas, no marco de uma repressão e de um estado de emergência de 30 dias. Por outro lado, o Ministério Público peruano pede prisão preventiva de Castillo e do seu primeiro ministro, Aníbal Torres, prolongada por 18 meses.
É um fato curioso, mas não espanta, que a mídia liberal tenha se apressado em enfocar o dia do suposto “golpe” de Castillo, colocando-o como um antidemocrata, mas que agora não dê o mesmo espaço e atenção para a reação popular em sua defesa.
Mais uma vez, para a mídia empresarial, a democracia é uma casca vazia e formal, afastada dos anseios e demandas populares, numa evidente afirmação neoliberal.
Na Bolívia, o governo de Luis Arce, do MAS, sofre pressão das oligarquias da região de Santa Cruz, historicamente conformada pelas mobilizações contra o governo popular de Evo Morales e agora contra o atual governo de Arce. Depois da tentativa de golpe encabeçado na região, em 2008, com flagrante participação da embaixada dos EUA, e do golpe de 2019, agora o pretexto para a reação cruceña é a postergação do Censo deste ano. O atual governador do estado é Luis Fernando Camacho, ex-líder da Unión Juvenil Cruceña y do Comité Cívico Pro Santa Cruz, integrante ativo do golpe de 2019, e que se aproveita do tema para pautar a balcanização e o separatismo na região.
Assembleia Constituinte
A bandeira da Constituinte surgiu nas lutas de rua, no período recente, em países como Chile, Guatemala e no Peru antes mesmo da eleição de Castillo. É uma bandeira imediata e ao mesmo tempo política, que aponta a necessidade de mais poder para os trabalhadores, diante de um Estado voltado à aplicação do neoliberalismo e de costas para as necessidades populares.
A atual constituição peruana foi aprovada durante o regime de Fujimori pai, em 1993. Fujimori assumiu o poder em 90 e ficou dez anos no comando do Peru depois de uma espécie de autogolpe e, com apoio da cúpula militar, quando fechou o Congresso do país. O ex-ditador foi condenado a 25 anos de prisão por crimes de lesa humanidade.
Futuro turbulento
Estamos diante de um futuro turbulento no continente. Um novo patamar que dificulta a estabilidade e ação dos governos progressistas, diferente do próspero e fecundo período entre meados de 1998, com a eleição de Chávez, até 2015, com eleição de Macri e a derrota de Cristina Kirchner na Argentina.
Em um cenário de crise econômica que ainda perdura, consolidação da extrema-direita golpista e manutenção do modelo neoliberal, é tarefa das esquerdas retomarem seu projeto estratégico, sustentado pela formação, propaganda e aprofundamento da organização popular.
Uma América unida e com um programa avesso ao neoliberalismo, focado na relação Sul-Sul e ainda sinalizando para o bloco China e Rússia, é tudo o que o imperialismo dos EUA parece não querer. As reações nesta temporada vieram cedo. Na verdade, estão presentes desde o primeiro dia de cada governo. E até antes da posse...
O quanto cada um dos episódios de ações golpistas está articulado e tem ligação com o governo dos EUA, tempo e investigação suficiente podem dizer. Em dez dias, no entanto, acompanhamos a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, sofrer mais um capítulo de perseguição judicial. Condenada a seis anos de prisão no dia 6 de dezembro, além disso Cristina ficaria inelegível e sem possibilidade de disputar as próximas eleições do país, quando seria o principal nome do peronismo com vínculo e influência popular.
No Brasil, bolsonaristas organizaram verdadeiros atos de terrorismo, no mesmo dia quando o presidente eleito Lula foi diplomado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – o que indica que, sem punição aos crimes do neofascismo e forte convocatória popular, esses segmentos seguirão mobilizando-se, sem pauta e pela instabilidade institucional.
Mobilização popular no Peru
Numa verdadeira crônica de um golpe anunciado, após um ano de pressão por parte do congresso do país e duas tentativas anteriores de impeachment, o presidente peruano, Pedro Castillo, foi destituído do governo e encontra-se preso, o que desencadeou uma forte mobilização nas ruas, sobretudo nos estados com forte mobilização camponesa e popular - Cusco, Puno, Arequipa e Apurímac, localidades onde os aeroportos estão fechados pelos protestos, além de La Libertad e Cajamarca.
O Peru profundo, dos textos de César Vallejo, vai às ruas e em protesto. Em que pesem decisões equivocadas de Castillo em seu percurso, o sentimento é de que a elite peruana não permitirá a aplicação de pautas populares e antineoliberais, derrubando qualquer candidatura vinculada à classe trabalhadora.
A pauta da agenda de protestos é a liberdade de Castillo, dissolução do atual congresso e adiantamento das eleições gerais do país, previstas para 2024. Ao lado dessas medidas, ressurge a pauta da assembleia Constituinte. Até o momento, nove pessoas foram mortas nos protestos e 71 estão detidas, no marco de uma repressão e de um estado de emergência de 30 dias. Por outro lado, o Ministério Público peruano pede prisão preventiva de Castillo e do seu primeiro ministro, Aníbal Torres, prolongada por 18 meses.
É um fato curioso, mas não espanta, que a mídia liberal tenha se apressado em enfocar o dia do suposto “golpe” de Castillo, colocando-o como um antidemocrata, mas que agora não dê o mesmo espaço e atenção para a reação popular em sua defesa.
Mais uma vez, para a mídia empresarial, a democracia é uma casca vazia e formal, afastada dos anseios e demandas populares, numa evidente afirmação neoliberal.
Na Bolívia, o governo de Luis Arce, do MAS, sofre pressão das oligarquias da região de Santa Cruz, historicamente conformada pelas mobilizações contra o governo popular de Evo Morales e agora contra o atual governo de Arce. Depois da tentativa de golpe encabeçado na região, em 2008, com flagrante participação da embaixada dos EUA, e do golpe de 2019, agora o pretexto para a reação cruceña é a postergação do Censo deste ano. O atual governador do estado é Luis Fernando Camacho, ex-líder da Unión Juvenil Cruceña y do Comité Cívico Pro Santa Cruz, integrante ativo do golpe de 2019, e que se aproveita do tema para pautar a balcanização e o separatismo na região.
Assembleia Constituinte
A bandeira da Constituinte surgiu nas lutas de rua, no período recente, em países como Chile, Guatemala e no Peru antes mesmo da eleição de Castillo. É uma bandeira imediata e ao mesmo tempo política, que aponta a necessidade de mais poder para os trabalhadores, diante de um Estado voltado à aplicação do neoliberalismo e de costas para as necessidades populares.
A atual constituição peruana foi aprovada durante o regime de Fujimori pai, em 1993. Fujimori assumiu o poder em 90 e ficou dez anos no comando do Peru depois de uma espécie de autogolpe e, com apoio da cúpula militar, quando fechou o Congresso do país. O ex-ditador foi condenado a 25 anos de prisão por crimes de lesa humanidade.
Futuro turbulento
Estamos diante de um futuro turbulento no continente. Um novo patamar que dificulta a estabilidade e ação dos governos progressistas, diferente do próspero e fecundo período entre meados de 1998, com a eleição de Chávez, até 2015, com eleição de Macri e a derrota de Cristina Kirchner na Argentina.
Em um cenário de crise econômica que ainda perdura, consolidação da extrema-direita golpista e manutenção do modelo neoliberal, é tarefa das esquerdas retomarem seu projeto estratégico, sustentado pela formação, propaganda e aprofundamento da organização popular.
Uma América unida e com um programa avesso ao neoliberalismo, focado na relação Sul-Sul e ainda sinalizando para o bloco China e Rússia, é tudo o que o imperialismo dos EUA parece não querer. As reações nesta temporada vieram cedo. Na verdade, estão presentes desde o primeiro dia de cada governo. E até antes da posse...
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