Foto: Ricardo Stuckert |
Nas três primeiras semanas do seu governo, Lula talvez não tinha podido dedicar nem 30% do seu tempo àquilo que é essencial: governar o Brasil.
Além da natural absorção do tempo pela montagem do governo – intrincada, sobretudo, quando se tem minoria parlamentar, como agora – vieram a tentativa de golpe do dia 8 e a incerteza quanto à disciplina do Exército, o que, afinal, exigiu-lhe a decisão de ontem, substituindo o comando do Exército.
É evidente que um novo comandante não significa que o desvario do bolsonarismo deixou as Forças Armadas, mas teve o mérito – sobretudo pelo discurso do general Tomás Ribeiro Paiva que ganhou a redes sociais e a mídia – de recriar o referencial legalista que havia desaparecido na questão militar no Brasil.
A lei e a Constituição voltaram – ou parecem voltar – a ser a voz de comando e quem quiser desobedecê-las ficará marcado pela transgressão.
Lula mostrou que lhe sobra o que falta ao Ministro José Múcio: limites à complacência (do dicionário: “disposição habitual para corresponder aos desejos ou gostos de outrem com a intenção de ser-lhe agradável”) .
É virtude que, em quantidade excessiva, vira fraqueza, algo fatal na relação com militares, não à toa designados pelo nome de “forças”.
Ainda teremos alguns tremores neste campo, porque houve ousadia suficiente no discurso do General Tomás para que se imagine que possa haver tibieza em afirmar sua capacidade de comando sobre a corporação.
Sabe que tem de dar alguns sinais, mas sabe também que é prudente esperar, para ir além deles, que o Poder Judiciário chegue às conexões militares do 8 de janeiro.
Mas ninguém se iluda achando que o Presidente da República agirá no sentido de pretender ou estimular qualquer tipo de “limpeza” nas Forças Armadas. Só tolos – ou pior, os vingativos – agiriam assim.
Lula não a procurou e foi ao limite da transigência com o general Arruda, que deixa agora o comando, assim como está indo com a atuação de José Múcio na Defesa.
Já percebeu que precisa “virar o fio” de sua ação, até para aproveitar a situação de “desmobilização moral” da oposição a seu governo, cuja parte mais lúcida (e poderosa) não quer se confundir com o bolsonarismo golpista.
Quem duvidar, veja como anda se comportando a Globo.
Lula tem esta urgência e encarregou o chefe da Casa Civil, Rui Costa, de pressionar os ministros a que apresentem alternativas para isso, no curto prazo.
Se Lula tem alguma dificuldade, neste momento, é a de controlar a ansiedade com que persegue resultados e sinais concretos para a população.
Com a tensão com os militares baixando a pressão, sente que já pode ser 100% presidente.
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