Foto: Ricardo Stuckert |
Lula tem feito apelos à pacificação do país e é um conciliador. Mas esse perfil não pode ser confundido com falta de autoridade. Foi o que o presidente deixou claro ao assumir seu papel de comandante supremo das Forças Armadas e determinar a exoneração do general Júlio César de Arruda da chefia do Exército.
Arruda dera seguidas mostras de insubordinação à autoridade presidencial, desde que impedira o desmonte do acampamento de terroristas em frente ao QG do Exército, na noite de 8 de janeiro, com a segurança do DF já sob intervenção federal. Arruda esticou a corda e peitou Lula, achando que ficaria por isso mesmo. Não ficou.
Lula o substituiu pelo general Tomás Ribeiro Paiva, comandante militar do Sudeste. Na quarta-feira (18/1), com a crise em torno de Arruda em ponto de fervura, Paiva aproveitou cerimônia interna com a tropa para fazer uma defesa da legalidade e do respeito às eleições (o discurso foi divulgado nas redes sociais do comando). Três dias depois, Paiva seria nomeado o sucessor de Arruda.
A defesa da legalidade é bem-vinda, mas só pode ser considerada extraordinária diante do cenário de anômala partidarização das Forças Armadas no Brasil. Convém lembrar que Paiva foi chefe de gabinete de Eduardo Villas Bôas, o general tuiteiro que, em abril de 2018, pressionou o STF na véspera da votação do Habeas Corpus de Lula. O resto você sabe.
Defender a legalidade, a democracia e a normalidade institucional é obrigação de qualquer militar decente e comprometido com seu país. Paiva terá que investigar a cadeia de comando permissiva (ou cúmplice?) diante do assalto terrorista ao Planalto, que envolve o Batalhão da Guarda Presidencial e o Comando Militar do Planalto.
Também terá que decidir sobre a reversão da nomeação do office boy (*) de Bolsonaro para o comando de unidade militar estratégica, em Goiânia. Tais tarefas exigirão bem mais do que a já conhecida loquacidade do novo comandante.
* Publicado originalmente na Folha de S.Paulo em 24/01/2023.
(*) O office boy de Bolsonaro a que me refiro é o tenente-coronel Mauro Cid, que havia sido nomeado para chefiar o 1o. Batalhão de Ações de Comando, em Goiânia. Cid é investigado pela Polícia Federal no caso conhecido como “rachadinha palaciana”, que envolve o uso do cartão corporativo da presidência da República. Na terça-feira (24/01), o Exército anunciou que o militar não assumirá o comando em Goiânia e que exercerá cargo burocrático no QG do Exército, em Brasília.
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