Charge: Guto Camargo |
Salvo acidente de percurso, tudo indica que, em questão de semanas, o TSE condenará Jair Bolsonaro a uma inelegibilidade de oito anos, retirando-o da cédula de 2026. Talvez por prever isso, ele vem tentando uma negociação tardia com a Corte, mandando aliados espalharem que sua intenção seria se candidatar a senador - como se, mediante a promessa de não tentar voltar à presidência, pudesse escapar da condenação. Hipótese mais do que remota, já que nada que faça hoje terá o poder de apagar o que fez ontem - atentou contra a ordem democrática usando o poder e os recursos de chefe do Executivo.
Então, em breve Bolsonaro estará fora do páreo e a democracia agradece. Mas a decisão do TSE obrigará não só a direita, mas também a esquerda e o centro, a refazer seus planos. A base política bolsonarista, instalada no PL e na direita mais radical, já decorou o script.
No primeiro capítulo, tentará desencadear grande reação nas redes - e até improváveis manifestações nas ruas - em protesto contra a suposta injustiça. Bolsonaro fará papel de vítima para tentar aglutinar seus seguidores, revendendo o discurso do outsider perseguido pelo establishment. Essa fase vai durar até se esgotarem os recursos à Justiça, muito provavelmente negados. Confirmada a exclusão de Bolsonaro das urnas, a turma vai cuidar da vida.
Primeiro, das eleições de 2024, quando, segundo o roteiro, o ex-presidente será um importante eleitor, circulando pelo Brasil para ajudar o PL a fazer prefeitos. Afinal, nada indica que perderá a base radical de cerca de 20% que o apoia (22% se declaram bolsonaristas ao Datafolha) e segue cegamente, faça chuva ou faça sol - e seja qual for o crime.
Passado isso, a direita, inclusive aquela não radical - que tende a ganhar espaço - tratará de escolher um ou mais sucessores para Bolsonaro em 2026. Se for esperta, trabalhará pela convergência em torno de um único nome, de perfil mais próximo do centro, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, ou até o de Minas, Romeu Zema, entre outros.
Para chegar a um candidato viável para disputar com Lula ou seu herdeiro, o desafio é chegar a um amplo entendimento à direita, um arco que iria do bolsonarismo até ao centro que, em 2022, votou no petista para evitar o golpe. Esse movimento pode contrariar a direita mais radical e o bolsonarismo pode até resolver apresentar candidato próprio - quem sabe um perfil militar como Braga Neto ou alguém da família Bolsonaro. Mas, se os apoiadores do ex-presidente o tornam um importante eleitor, não fazem verão isolados. Acabariam migrando para uma direita mais competitiva.
A futura decisão do TSE mexe muito também com o outro lado do espectro. Um Bolsonaro na disputa, aglutinando a extrema direita golpista, poderia levar Lula a ter de se candidatar para derrotá-lo novamente - numa repetição, agora mais acirrada pelo 8/1, da correlação de forças golpismo x democracia de 2022.
Mas a nova configuração sem Bolsonaro pode abrir o quadro para outro nome, capaz de manter o apoio do centro que a direita não-radical quer capturar - a noiva da temporada. Esse grupo, algo entre 20% a 30%, é o fiel da balança nas eleições presidenciais. Dependendo do adversário, e de sua capacidade de atrair o establishment econômico e midiático - caso de Tarcísio, por exemplo - poderiam crescer outras opções governistas. E aí entram especulações em torno de petistas mais moderados, como Fernando Haddad e Rui Costa, e de outros personagens da frente que elegeu Lula: Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Flavio Dino…
O fator preponderante dessa eleição será o desempenho do governo Lula. Se aprovar no Congresso arcabouço fiscal e reforma tributária, e fizer a economia deslanchar, com empregos e desenvolvimento, não tem para ninguém. O presidente se reelegerá com o discurso de esquerda retomado no terceiro mandato - e o centro virá atrás dele ou do nome que escolher.
Como essa variável só ficará clara mais perto da eleição, também o outro lado vai esperar para se definir. Não irá, por exemplo, queimar um governador com chances de reeleição numa disputa presidencial perdida.
Mas a nova configuração sem Bolsonaro pode abrir o quadro para outro nome, capaz de manter o apoio do centro que a direita não-radical quer capturar - a noiva da temporada. Esse grupo, algo entre 20% a 30%, é o fiel da balança nas eleições presidenciais. Dependendo do adversário, e de sua capacidade de atrair o establishment econômico e midiático - caso de Tarcísio, por exemplo - poderiam crescer outras opções governistas. E aí entram especulações em torno de petistas mais moderados, como Fernando Haddad e Rui Costa, e de outros personagens da frente que elegeu Lula: Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Flavio Dino…
O fator preponderante dessa eleição será o desempenho do governo Lula. Se aprovar no Congresso arcabouço fiscal e reforma tributária, e fizer a economia deslanchar, com empregos e desenvolvimento, não tem para ninguém. O presidente se reelegerá com o discurso de esquerda retomado no terceiro mandato - e o centro virá atrás dele ou do nome que escolher.
Como essa variável só ficará clara mais perto da eleição, também o outro lado vai esperar para se definir. Não irá, por exemplo, queimar um governador com chances de reeleição numa disputa presidencial perdida.
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