Charge: Gilmar |
1) Já está claro como água que são inúteis as negociações tentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na base do apelo ao bom senso e aos interesses do país.
2) O problema é que o bolsonarista que preside o BC está convencido de que a história lhe deu de presente a oportunidade de ouro de sabotar o governo do líder popular que se elegeu defendendo desenvolvimento econômico e a consequente geração de emprego e renda.
3) Tampouco adianta chamar à razão os terraplanistas econômicos do Conselho de Política Monetária (como os define o jornalista Luis Nassif), pois argumentos racionais não comovem o Copom. Eles não querem nem saber, por exemplo, que não existe inflação de demanda no Brasil.
4) A propósito, é preciso tirar os membros do Copom da zona de conforto na qual se protegem da sociedade. Cabe às lideranças de partidos com compromissos populares, dirigentes sindicais e empresariais, além da mídia contra-hegemônica, jogar luz sobre esses tecnocratas e cobrar-lhes publicamente por suas posições antipopulares e antinacionais. Ou seja, nem só o presidente do BC deve estar na alça de mira.
5) Urge mostrar didaticamente para as pessoas que a maior taxa de juros do planeta responde em boa medida pelo chefe de família que vive o drama do desemprego, o empresário que se viu forçado a fechar as portas e pela estagnação da economia que sacrifica uma geração.
6) O presidente Lula apontou o caminho para os setores progressistas e desenvolvimentistas: é necessário substituir o economês e a linguagem empolada que costumam envolver esse debate por exemplos de ordem prática que tenham a ver com a vida dos brasileiros.
7) Que investidor em potencial pode tomar empréstimos a juros de 13,75% ao ano? Decerto optará pela ciranda financeira, especialmente aplicando em papéis da dívida pública.
8) O Brasil não pode esperar o fim do mandado do presidente do Banco Central, em 2024. Chegou o momento de se construir uma campanha cívica pela derrubada dos juros e do presidente do BC. É imperiosa uma mobilização nas ruas, impulsionada por entidades da sociedade civil, centrais sindicais, movimentos populares e empresários do ramo produtivo. Tarefa simples? Nem um pouco, dada à apatia generalizada e à aridez do assunto, mas também é papel da vanguarda política navegar em águas revoltas. Justiça seja feita: o movimento sindical já deu o pontapé inicial realizando algumas manifestações.
9) O fato de somente através de uma votação no Senado ser possível defenestrar Roberto Campos Neto não pode servir de pretexto para acomodação. Por que não começar imediatamente a pressão sobre os senadores e as senadoras?
10) Tão logo a correlação de forças permita, se faz necessário um acerto de contas com a excrescência antirrepublicana e neoliberal que é a independência do Banco Central. Primeiro porque que não é independente coisa nenhuma, pois come na mão do mercado financeiro. E depois porque, por respeito à soberania popular, nenhum governo pode abdicar de fazer política monetária.
11) Repare que o presidente do BC usa de todos os artifícios para manter os juros na estratosfera. Reclama que não tem arcabouço fiscal. O arcabouço é elaborado e enviado ao Congresso, mas ele diz que falta aprová-lo e testar seus efeitos práticos. O rame-rame do combate à inflação é repetido como uma mantra. Mas a prévia da inflação surpreende positivamente. Aí Roberto Campos reclama que é pouco, que tem que cair bem mais. Agora, fala das incertezas do mercado externo. E sempre ameaçando aumentar a taxa de juros. Basta! É hora de ir para o pau.
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