Charge: Toni |
Pouco antes de saber do desfecho do julgamento no TSE, Bolsonaro tentou ser magnânimo e modesto ao mesmo tempo e largou essa sobre a sua condenação: “Não é o fim da direita”.
Ele está certo. O que acontece é o contrário, é a libertação da direita. Desde Fernando Henrique Cardoso, há mais de duas décadas, a direita brasileira não tem pai nem mãe.
Bolsonaro foi um encosto, uma gambiarra ou um padrasto para o que ainda se pode chamar de conservadorismo, mas chegou ao fim.
A direita brasileira, em suas muitas configurações, está finalmente livre de uma das mais grotescas improvisações das democracias.
Poucos países têm uma aberração similar. Mas nenhum dispõe de uma figura que tenha chegado ao poder como Bolsonaro chegou. Nenhum experimentou tal nível de perversão.
Bolsonaro foi o improviso que por pouco não se manteve por mais tempo do que o previsto. E desaparece muito mais para o bem da direita do que das esquerdas.
O TSE oferece a chance da reabilitação à elite brasileira, aos velhos e novos ricos, à classe média revanchista e a todos que têm medo de negros e pobres nas universidades e nos aviões.
O TSE oferece ao centrão, ao que restou dos tucanos, à velha direita agro não-grileira e não-desmatadora e à Faria Lima o sacrifício de Bolsonaro.
Livrem-se dos seus pecados, sejam misericordiosos com os que não queriam e acabaram fumando e tragando o bolsonarismo. Abandonem esse vício e busquem outro rumo na vida.
É o que TSE manda dizer aos que admitem a remissão, que confessam a adesão desesperada à opção oferecida em 2018 por milicianos e militares, mas que agora querem outra coisa.
Não há como imaginar que Bolsonaro possa ser referência ativa para nada a partir de agora. Nem cabo eleitoral de luxo, como ele pretende ser.
Bolsonaro passa a ser o santinho do pau oco do bolsonarismo. Talvez até faça milagres e exorcismos.
Mas é um preguiçoso que nunca trabalhou como deputado. E que nunca fez nada como presidente.
Nem Valdemar Costa Neto deve acreditar que ele possa se dedicar ao trabalho puxado de cabo eleitoral. Mesmo que seja apenas para fazer motociatas. Porque o trabalho o incomoda.
Bolsonaro verá as fichas caindo uma a uma sobre sua cabeça toda vez que for dormir. É agora que começa sua luta contra as acusações de que cometeu crimes graves, e não só ilícitos eleitorais por abuso de poder político.
Na mesma entrevista, ele disse, como atenuante, que foi condenado por “crime sem corrupção”. As broncas com crime vêm agora, e com corrupção.
É agora que vêm as peças para completar o conjunto da obra, além do julgamento de mais 15 ações no mesmo TSE.
Bolsonaro tem os crimes da pandemia, das milícias digitais, do golpe, das agressões à deputada Maria do Rosário, das joias das arábias, das rachadinhas.
Nem ele deve saber dizer ao certo quantos inquéritos e processos enfrenta, incluindo as ações por genocídio no Tribunal de Haia.
O inelegível não terá como se concentrar na campanha municipal, se for chamado toda semana para depor em uma das investigações.
Porque agora não há como travar o andamento desses casos. O sistema de Justiça é desafiado a trabalhar e a perder o medo do fascismo.
O cabo eleitoral de luxo talvez não exista na cabeça dos profissionais do PL, até porque ele estará atormentado pela ameaça de ser substituído por Tarcísio de Freitas ou pela própria mulher. Até Zema pode substituí-lo.
Bolsonaro passa a ser pressionado também pela destruição das vidas de ex-auxiliares, e não só as vidas de Anderson Torres e Mauro Cid.
Manezinhos, terroristas e financiadores de médio porte, todos estão condenados a passar muitos anos envolvidos com a Justiça porque acreditaram em Bolsonaro.
Não há, como muitos dão a entender, um Bolsonaro que foi apenas tornado inelegível e que irá sacudir a poeira e seguir em frente.
É agora que começa a devassa na área criminal. E assim a direita, livre do estorvo, finalmente poderá voltar a repensar a vida fora da cracolândia bolsonarista.
A morte política de Bolsonaro pode ressuscitar até os tucanos, não para que voltem a voar, mas para que pelo menos deixem de miar e voltem a piar.
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