Charge: Nei Lima/Jornalistas Livres |
No domingo passado (09/07/2023), ao participar de um encontro de promoção da indústria de armas, um notório deputado pertencente ao núcleo familiar bolsonarista apareceu em um vídeo externando seu ódio aos professores, colocando-os como piores do que traficantes de drogas. Segundo ele, os professores são os maiores culpados pela existência de desavenças e divisões no seio das famílias.
Qual poderia ser a razão para que uma categoria profissional tradicionalmente considerada de fundamental importância para o desenvolvimento da sociedade tenha sido retratada como o que de mais nocivo exista?
Seria muito difícil encontrar uma resposta satisfatória para esta questão sem levar em consideração a visão de mundo e a filosofia política que orientam tanto ao deputado bolsonarista a quem fizemos referência como aos bolsonaristas de modo geral.
Para início de conversa, queria relembrar uma observação que fiz há algum tempo quando procurei esclarecer que a forma mais apropriada de se referir ao bolsonarismo era qualificá-lo como a versão brasileira do nazismo. As razões ali esgrimidas para justificar essa minha opção me parecem permanecer inteiramente válidas, e até mesmo reforçadas, neste instante em que nos encontramos.
Bem, já que o bolsonarismo é a versão brasileira do nazismo, é mais do que necessário trazer de volta à memória qual era a principal característica do nazismo em sua relação com a formação da consciência pública.
Joseph Goebbels era o ministro da propaganda de Hitler. Foi ele quem cunhou o célebre slogan: “Uma mentira repetida mil vezes passa a ser uma verdade”. De tudo o que o nazismo já produziu, este é, sem dúvidas, o ensinamento mais valioso, aquele que todos os seus seguidores ao longo do tempo vêm cultivando e pondo em prática. Em vista disto, como o bolsonarismo também é nazismo, não poderia ser diferente em nossa atualidade brasileira.
O que o teórico da comunicação nazista queria dizer com sua tese é que a repetição constante de uma mentira tende a se sedimentar no cérebro de quem a recebe e, com o passar do tempo, passa a ser irrefletidamente aceita como uma verdade absoluta. Para que assim seja, é muito importante que não haja brechas por onde entrem visões que se contraponham à mentira que se quer consolidar. E é disto de decorre o enorme ódio contra a atuação dos professores.
Qualquer professor de boa índole sabe que a essência de seu papel no trabalho educativo é ajudar seus alunos a desenvolverem sua capacidade crítica de analisar o mundo. O professor de verdade é aquele que está comprometido com os interesses da humanidade, aquele que tem por objetivo tornar a seus alunos seres capazes de processar as mensagens recebidas de modo a que sirvam para ajudá-los a construir um mundo mais justo e digno. Em vista disto, um professor com esta característica e com esses objetivos jamais atuará no sentido de permitir que seus educandos se transformem em meros repetidores daquilo que é bombardeado em sua mente.
Em consequência, o professor realmente solidário com a luta de seus alunos por seu crescimento e pelo desenvolvimento de sua humanidade é de fato um grande obstáculo para o projeto nazista de se assenhorar de sua mente em construção. Ao incentivar o uso do raciocínio crítico, o professor impede que a tese goebelliana se difunda e se expanda da maneira como os nazistas-bolsonaristas gostariam que ocorresse.
Então, no entendimento dos adeptos do nazismo, todos deveriam receber apenas aquelas visões de mundo que condizem com os postulados por eles apregoados. Por isso, não é à toa que odeiam os professores de mentalidade aberta. Segundo eles, nossas crianças e todo nosso povo deveriam somente se informar e se formar através das mensagens curtas e repetitivas transmitidas pelas redes digitais sob seu controle, sem nenhuma possibilidade de confrontação com outros posicionamentos.
Em decorrência do que acabamos de expor, está mais do que justificado o ódio ferrenho que os nazistas-bolsonaristas nutrem por aqueles que se preocupam por ajudar-nos a raciocinar. A capacidade de reflexão é de veras um veneno mortal para a consolidação de uma sociedade inspirada no nazismo.
Sendo assim, insistindo neste ponto, como o bolsonarismo é a atual versão brasileira do nazismo, podemos compreender perfeitamente quais são as razões que motivaram o deputado bolsonarista já citado a proferir tão terríveis ofensas à categoria dos profissionais da educação.
* Jair de Souza é economista formado pela UFRJ; mestre em linguística também pela UFRJ.
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