Foto: Marina Ramos/ Câmara dos Deputados |
Lula e Lira, Lira e Lula… poderia ser uma dupla sertaneja, não fosse o antagonismo quase obrigatório entre eles.
Por ora, o Lula politicamente fortalecido dos últimos dias - sobretudo pela boa evolução da economia - continua cozinhando Lira em fogo brando e adiou por pelo menos dez dias a reforma ministerial.
Vai, sim, entregar dois ministérios e outras coisinhas ao Centrão. Afinal, Lira continua pilotando o fogão e a maioria direitista da Câmara - em condições de carbonizar projetos fundamentais para o governo, como o arcabouço fiscal, que continua parado na Câmara.
Mas Lula vem trabalhando numa política de redução dos danos que essa reforma pode trazer ao governo. Além de mudar áreas importantes de mãos, é impopular entregá-las a esse pessoal.
Por isso, vem jogando com dois fatores na queda-de-braço com Lira: o tempo, ao longo do qual a economia vai dando bons sinais, e a ansiedade do deputado e seus aliados.
Se, no governo passado, o presidente da Câmara acostumara-se a ser uma espécie de primeiro ministro, controlador das benesses dadas pelo Executivo aos deputados, ele agora parece meio perdido no novo papel.
Aparentemente, padece da insegurança de quem não se adapta mais ao figurino de simples presidente da Câmara (embora, para os mortais comuns, isso seja muita coisa) e vê o poder se esvair no médio prazo.
Seu mandato à frente da Casa termina em um ano e meio, e uma boa colocação depois disso - um ministério, quem sabe - vai depender de Lula.
O desconforto de Lira cresceu nos últimos dias, quando interpretou as seguidas falas do petista de que “o Centrão não existe”, e que iria negociar diretamente com os partidos, como uma tentativa de esvaziá-lo. Provavelmente são mesmo. Segundo aliados, porém, no encontro secreto (?) da dupla, na quarta, o jeitoso Lula teria conseguido acalmá-lo.
E é assim que a relação entre eles agora prossegue. Lula, que há algumas semanas sofria as agruras de um presidente sem maioria, agora fortaleceu-se e faz um jogo de estica-e-solta. O presidente da Câmara maneja os cordéis das votações, mas não é mais senhor absoluto de tudo.
As expectativas em relação à economia seguem em trajetória crescente. Na última semana, a decisão do Banco Central de baixar os juros - talvez até Campos Neto tenha achado que não é bom momento para brigar com Lula - ampliou a margem de segurança do presidente para peitar certas exigências do Centrão.
Ele sabe ainda que, quanto mais esperar, melhores podem ser as condições de negociação.
Por isso, em vez de ficar em Brasília se desgastando na distribuição de ministérios e sendo alvo de noticiário negativo sobre o “ toma-lá-dá-cá” , o presidente resolveu se dedicar à agenda positiva nos próximos dias.
Adiou a reforma e está em Santarém, onde lançou obras. Passará os próximos dias em Belém, na cúpula dos países da Amazônia, que tem como foco a questão do meio ambiente, da floresta, da economia verde - tudo o que interessa ao Brasil, ao mundo e à mídia nesse momento.
Como não há pressa para voltar ao rame-rame das chantagens políticas, na sexta-feira Lula estará no Rio para a festa de lançamento do Novo PAC, o programa de obras de infraestrutura que vai injetar recursos públicos e privados na economia.
Só na volta, lá pelo dia 14 ou 15 (neste último tem viagem ao Paraguai), o presidente deve descascar o abacaxi ministerial. Se der tempo. Tem reunião dos Brics em Johannesburgo dia 22.
E Lira? Vai esperar direitinho, ao que parece. Politicos profissionais são assim. Farejam a mudança dos ventos e reorientam as rotas.
Algumas vezes, até o tempo passar e aparecer a oportunidade de dar o troco no adversário - no caso de um presidente da Câmara, o golpe mais mortal é um processo de impeachment.
Hoje, porém, nada mais longe da realidade do que isso. Do jeito que as coisas vão, é até possível imaginar algo impensável: ver no futuro a dupla Lula-Lira cantando afinadinha.
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