Campanha da candidata Luisa González, Equador |
Equador, Argentina e, agora, a Colômbia. As forças de direita e extrema-direita seguem causando estragos na América Latina, contrariando os que diagnosticam que elas estão em refluxo na região. Neste domingo (29), a oposição ao governo progressista de Gustavo Petro venceu as eleições em várias cidades colombianas. O baque mais sentido foi em Bogotá, a capital do país, que era considerado um reduto das esquerdas.
Como registra a Folha, “o petrismo assistiu a uma derrota simbólica. O candidato opositor Carlos Fernando Galán, do partido Novo Liberalismo, ganhou a prefeitura em primeiro turno, ao obter mais de 40% dos votos... Gustavo Petro, ele próprio, foi prefeito de Bogotá, eleito em 2011. E a capital votou majoritariamente pelo ex-guerrilheiro nas eleições presidenciais de 2022, concedendo-lhe mais de 58% dos votos na cidade, o que a desenhou como possível bastião do petrismo – agora, nem tanto”.
Sinal de alerta na Colômbia
O candidato do campo popular, Gustavo Bolívar – amigo pessoal do presidente – ficou em terceiro lugar, com apenas 18,7%. As forças progressistas se dividiram no pleito, inclusive com o rompimento da atual prefeita de Bogotá, Claudia López. “Ela apoiou Petro à Presidência, mas paulatinamente se distanciou do líder e passou a criticá-lo publicamente”, descreve o jornal.
O resultado das eleições deste final de semana acende o sinal de alerta para a sucessão presidencial em 2026. Gustavo Petro não poderá ser candidato, já que a reeleição é proibida no país. Além disso, a frente montada para agregar as forças progressistas, o Pacto Histórico, está fraturada. Levantamento do instituto Prospectiva mostra que, de 2019 até 2023, o número de partidos cresceu 87%. Hoje, a Colômbia tem 35 partidos políticos. “Quase todos os novos partidos que nasceram são progressistas, estão à esquerda. Há uma fragmentação, que se deve sobretudo a uma falta de identidade ideológica dos grupos políticos”, relata a Folha.
Um ricaço neoliberal vence no Equador
Um desfecho negativo para as forças de esquerda também ocorreu no Equador, que realizou o segundo turno das eleições presidenciais em 15 de outubro. O bilionário Daniel Noboa, com um programa neoliberal e o apoio das forças de direita, venceu o pleito com 52,30% dos votos válidos. A candidata do movimento progressista Revolução Cidadã, Luisa González, que tinha saído na frente no primeiro turno, perdeu a disputa na reta final, sendo alvo de uma violenta e suja campanha da mídia monopolista e do esgoto digital da extrema-direita.
Ao registrar o resultado da eleição, a mesma Folha festejou a vitória do ricaço como “um sopro de esperança no conturbado cenário político e social do Equador... É mais uma dura derrota do correísmo, movimento personalista ligado ao ex-mandatário Rafael Correa (2007-17)”, líder asilado na Bélgica do Revolução Cidadã. No geral, a mídia nativa tratou o ricaço carinhosamente como um “liberal”, deixando de lado todos os seus podres. Filho do “magnata das bananas” Álvaro Noboa, o novo presidente equatoriano já foi denunciado por possuir ao menos duas offshores em paraísos fiscais, o que é proibido pela legislação eleitoral do país.
Segundo documentos vazados da já esquecida operação Pandora Papers, Daniel Noboa e um de seus irmãos são os principais proprietários da Lanfranco Holdings, com sede no Panamá, e uma das maiores empresas do conglomerado do clã Noboa. Ele ainda aparece como beneficiário direto da Fundação Briscor, também sediada no Panamá. O jovem ricaço realiza o sonho político do pai, o homem mais rico do Equador, que disputou cinco vezes as eleições presidenciais, mas sempre foi derrotado. Ele é herdeiro do Grupo Noboa, um conglomerado multinacional de exportação de bananas e com inúmeras empresas no país e no exterior.
Papel da mídia e divisão das esquerdas
Apesar da trajetória sinistra, Daniel Noboa foi eleito e cumprirá um mandato tampão de um ano e meio, após a crise no governo do banqueiro Guilherme Lasso. Há várias explicações para o avanço da direita no país vizinho. O intelectual italiano Marco Consolo enfatiza, entre outros, dois fatores. “Os meios massivos de desinformação se colocaram todos a favor de Noboa, praticamente sem contrapeso. Funcionou sua campanha de ódio, com as acusações do Revolução Cidadã de ser a responsável pelo assassinato do candidato presidencial Villavicencio”.
Ele também aponta as fraturas no campo popular, entre as forças de esquerda. “Capítulo aparte merecem os povos originários e o ‘movimento indígena’, protagonistas das grandes mobilizações dos últimos anos, cuja divisão pesou no resultado. Uma parte optou pelo ‘voto nulo ideológico’, reclamando total autonomia da esfera política. Outra parte negociou postos de governo com Noboa e outro setor simplesmente guardou silêncio a espera das eleições de 2025”.
Com relação às eleições na Argentina, melhor esperar o resultado do segundo turno marcado para o dia 19 de novembro. Se o peronista Sergio Massa confirmar seu favoritismo, derrotando o fascistoide Javier Milei, será um contrapeso aos avanços da direita na América Latina. Mas ainda há muitas incertezas no ar. A conferir!
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