COP28, em Dubai. Foto: Ricardo Stuckert |
Se Lula fizer, será criticado. Se não fizer, também.
Essa é a velha e conhecida tarefa a que se dedicam os grandes órgãos de imprensa de nosso país.
Lula anunciou que o Brasil integrará a Opep+, braço da Organização dos Países Exportadores e Produtores de Petróleo, liderada pelo cartel dos árabes. Como já se esperava, as críticas, mesmo sem ter as informações necessárias do que significa o ato, despencaram sobre a cabeça do presidente.
Na entrevista coletiva que Lula concedeu em Dubai, sua resposta a um jornalista procurava esclarecer os motivos da entrada na organização. Não significa entrar para o cartel, mas sim, ser um membro consultor e influenciador nas futuras decisões da Opep, já que os árabes, que são gananciosos, mas não são burros, estão projetando um futuro cada vez menos dependentes do produto que eles vendem. É só observar o crescente interesse na produção de carros, caminhões e ônibus elétricos. Na esteira disso virão o hidrogênio verde e a evolução de maquinários que abandonarão o petróleo. É a chamada transição energética de que Lula vem falando o tempo todo.
De maneira apressada nossa imprensa deu muito mais voz ao “prêmio Fóssil do Dia” conferido a Lula por uma associação de ONGs que critica a entrada do Brasil na Opep+ do que aos resultados de sua presença na COP-28.
A verdade é que todos sabem que Lula é hoje uma liderança gigante na luta contra as mudanças climáticas e um dos exemplos disso é a redução de 22% no desmatamento em apenas 11 meses de governo. Parece que bom era nos tempos de Bolsonaro em que a política era de descaso com o meio-ambiente, respaldo ao garimpo ilegal, invasões de terras públicas, desmatamento e venda de madeira ilegal, além do antiprotagonismo nas questões climáticas a nível de ONU.
Lula também tem sido incansável na luta para um acordo entre a União Europeia e o Mercosul. É particularmente notável ver a imprensa tendo orgasmos com o por enquanto aparente fracasso do presidente, despida de qualquer preocupação com o bem-estar econômico que esse acordo poderia gerar aos brasileiros. Um colunista chegou a escrever que o plano de Lula de chegar ao Natal em triunfo internacional naufragou. Como se o fracasso fosse só do presidente e não de todo o país. Como se o fracasso fosse de inteira responsabilidade dele e não de outras forças conservadoras como o presidente da França, Macron.
Lula pode muito, mas não pode tudo. Pelo menos é tão esforçado para que seu governo dê certo que trabalha até nos finais de semana, enquanto aquele de quem a imprensa já sente saudades, dava menos de 4 horas de expediente por dia e nos sábados e domingos ia brincar de jet-ski.
* Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor.
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