Charge: Romulo Garcias/Jornalistas Livres |
Conforme surgem os primeiros nomes das pessoas espionadas por Alexandre Ramagem, ex-chefão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no covil bolsonarista e atual deputado federal (PL-RJ), mais gente afirma que já desconfiava dessa ação criminosa. É o caso da ex-deputada Joice Hasselmann, que ajudou a eleger o “capetão” e depois rompeu com seu governo corrupto. Em entrevista ao site UOL nesta quinta-feira (25), ela afirmou:
“Eu sabia desse monitoramento desde o final de 2019. O próprio [Gustavo] Bebianno, enquanto era vivo, já tinha falado dessa ‘Abin paralela’ comandada pelo Ramagem. Era uma das coisas que o preocupava bastante. O Bebianno chegou a comentar comigo, mas não levei tão a sério. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro”. Em outro trecho, a ex-deputada lembra de uma cena na metade daquele primeiro ano de governo fascista.
“Mais ou menos na metade do ano, eu entrei na sala do Bolsonaro na Presidência da República. Muitas vezes eu não era anunciada, porque era integrante do governo e entrava e saia na hora que queria. Ele conversava com o general Heleno. Pararam de falar quando eu entrei, mas deu tempo de pescar um pedaço da conversa. A alma de jornalista entrou em cena, [fiz] três ligações e consegui confirmar que existia a 'Abin paralela’”.
O pessoal da Abin Paralela
Joice Hasselmann avalia que a espionagem se avolumou após ela derrotar o filhote 03 do “capetão”, Eduardo Bolsonaro, na disputa pela liderança do PSL na Câmara Federal. “Era óbvio que eu seria monitorada pela Abin. Só que a coisa começou a ficar patética porque eles não só monitoravam onde eu estava... Eles começaram a me seguir. Teve um momento que passou a ser patético porque os meus seguranças – eu estava escoltada por conta de ameaças de morte à época – tiravam sarro: ‘Olha o pessoal da Abin acompanhando a gente’”.
Conhecedora do submundo bolsonarista, a ex-deputada insinua que a espionagem criminosa foi ordenada pelo ex-presidente e garante que o ex-chefão da Abin era apenas um “cachorro adestrado”. “A família Bolsonaro é uma família de políticos profissionais, eles não têm outra função. Perdeu a eleição, vai fazer o que? Não tem outra função. Eu sou empresária, tenho outra função e sou jornalista, agora eles não. O importante para eles é estar sempre agarrados ao poder e para isso eles fazem qualquer negócio”.
“Ramagem é um cachorro adestrado do Bolsonaro... Foi assim que ele chegou à Abin, levado pelo Carlos até o Bolsonaro... Ele conseguiu ser chefe da Abin depois de ser vetado como comandante da Polícia Federal. Isso [a atual investigação da PF] vai chegar no Bolsonaro, não tem como. São pontos que automaticamente se ligam. É como se tivesse um ímã no Ramagem e no Bolsonaro com polos diferentes que se atraem. Esse ímã vai chegar, vai se atrair e a polícia vai chegar no Bolsonaro e nos filhos metidos nisso também”. A conferir!
Uso ilegal de uma instituição do Estado
Outro que afirma ter desconfiado da arapongagem foi o advogado Roberto Bertholdo. Segundo a investigação da Polícia Federal, a ferramenta FirstMile foi usada pela Abin para monitorá-lo ilegalmente, “pela proximidade que ele tinha com o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e a então deputada federal Joice Hasselmann. Isso aconteceu entre 2019 e 2020. A conclusão foi mencionada pelo ministro Alexandre de Moraes na decisão que autorizou a operação”, relata o site Metrópoles. Ouvido pela coluna, ele afirmou:
“Não me surpreende. No governo Bolsonaro, havia movimentos estranhos em frente à minha casa e ao meu escritório em Brasília. Meus funcionários me avisavam de carros que ficavam parados com pessoas à espreita nesses locais, com gente tirando foto. Isso existia sem dúvida nenhuma... Vou analisar se processarei os indivíduos [alvos da investigação] ou as instituições. Pelo jeito, houve o uso de uma instituição de Estado para motivos de natureza pessoal, vingança, perseguição. É desconfortável, cria um constrangimento enorme”.
Já Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados, também pretende processar os envolvidos na ação criminosa. “Não estou surpreso. Avançando as investigações e chegando a essa conclusão, que parece que é verdade, tomarei as atitudes cabíveis. É preciso acabar com a percepção de que o crime contra a democracia é menor”. O ex-deputado ainda criticou a presença de Alexandre Ramagem no parlamento e sua candidatura a prefeito do Rio de Janeiro. “Ele é a raposa cuidando do galinheiro na Câmara. E é essa mesma pessoa que poderia usar o aparelho de uma prefeitura poderosa como a do Rio de Janeiro contra os seus adversários”.
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