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Nem flopou, nem foi um estrondo. A manifestação golpista na Avenida Paulista neste domingo (25) cumpriu os objetivos traçados pelo QG do bolsonarismo, mas não livra o “capetão” e suas milícias civis e fardadas do processo em curso na Justiça, que pode resultar em condenações e prisões. No calor do acontecimento, um primeiro balanço:
1) O ato mostrou força para as fotos – como implorou o ex-presidente fujão. Não foram os 650 mil anunciados pelo ex-secretário Fábio Wajngarten nem os 300 mil previstos pelo “pastor” Silas Malafaia. Mesmo assim, ele reuniu muita gente. Segundo métricas da USP, 185 mil fiéis seguidores estiveram presentes. Já a Folha fala em quatro quarteirões abarrotados – cerca de 160 mil pessoas. Não é fácil esse tipo de mobilização – a esquerda sabe disso. Não é bom subestimar a força da extrema direita, que está em ascensão no mundo e mantém sua força no Brasil.
2) O ato ajudou a conter a dispersão do campo fascista. Governadores eleitos na onda bolsonarista, mercadores da fé, cloaca burguesa e militares não se manifestaram após a operação “Tempus Veritatis”, que atingiu o coração do bolsonarismo na véspera do Carnaval. A manifestação na Paulista conseguiu reunir quatro governadores e dezenas de parlamentares. É certo que houve muita trairagem – como dos governadores Ratinho (PR) e Cláudio Castro (RJ), dos expoentes do lúmpen-empresariado (Luciano Hang, Meyer Nigri e Afrânio Barreira) e de vários lobistas da fé. Mas o ato teve legitimidade política e serve como pressão sobre os poderes da República.
3) A iniciativa também serviu para repassar a mensagem central do bolsonarismo para o próximo período, para a nova campanha dos golpistas. Bolsonaro, Malafaia, Michelle e outros insistiram no tema da anistia, pediram perdão aos terroristas que depredaram as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023. Acima de tudo, eles levantaram a tese da anistia para o próprio “mito”. A fala do pastor-charlatão foi emblemática nesse sentido: “Se eles te prenderem, você vai sair de lá exaltado. Se eles te prenderem, não vai ser a tua destruição, mas a destruição deles”.
4) Por último, o ato da Avenida Paulista serviu para preparar o time da extrema direita para as eleições de outubro. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até poderia analisar se não houve crime eleitoral, com a antecipação da disputa. Bolsonaro foi explícito: “Em 2024, temos eleições municipais. Vamos caprichar no voto para vereadores e prefeitos”.
5) Se estes quatro objetivos foram cumpridos, não significa que Bolsonaro e seus milicianos saíram mais tranquilos da manifestação de domingo. Havia muita tensão nos rostos dos palanqueiros do caminhão Demolidor. Metido a valentão durante suas trevas fascistas, o ex-presidente pediu explicitamente arrego e virou “tchutchuca”, como foi ironizado pelos internautas. O defensor das torturas, da ditadura e da necropolítica não atacou o STF ou Lula, não proferiu palavrões e até falou em “pacificação” e “conciliação”. O “cagão”, segundo outros ativistas digitais, preferiu terceirizar os ataques para o pastor encapetado Silas Malafaia, que acha que está acima de Deus e ainda conta com “imunidade religiosa”.
6) Passado o ato da Paulista, o que virá agora? Como o STF vai encarar a “demonstração de força” dos golpistas? Será que usará as palavras do próprio ex-presidente, que finalmente reconheceu a existência da “minuta do golpe”, para incriminar ainda mais o chefão da Orcrim (Organização Criminosa)? Quais serão os seus próximos passos – indiciamento, julgamento, condenação e prisão? E como o Congresso Nacional vai se comportar diante dessa nova provocação? E o campo popular e progressista, as forças de esquerda – social e política? Ele precisará analisar em profundidade o novo quadro para definir a sua reação, as suas iniciativas. Em política não há espaços vazios! Ainda mais nesses tempos de intensa disputa de hegemonia, da tal batalha de narrativas!
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