Protesto na cidade de Günzburg, na Baviera Foto: Stefan Puchner/DPA/PictureAlliance |
A Europa continental foi cenário nos últimos dias de um crescimento exponencial dos protestos sociais, sobretudo nos transportes e no setor agrícola.
Na Alemanha houve a paralisação sucessiva do sistema ferroviário nacional, dos aeroportos e por fim do transporte urbano em Berlim durante algumas horas da manhã de sexta-feira passada. Motivo: reivindicações salariais e de melhores condições de trabalho. A Covid 19 deixou de ser o fantasma fatal de tempos atrás, mas continua penalizando trabalhadores que se vêm impossibilitados de desempenhar suas funções, sobrecarregando os demais. E conta nesta época do ano com seu aliado, o inverno, que, com fortes resfriados, também vai levando trabalhadores ao repouso forçado.
Na Finlândia também houve uma paralisação total na semana que passou, com sindicatos de várias categorias protestando contra um projeto do governo conservador que visa restringir o direito de greve e reduzir o seguro-desemprego. A paralisação atingiu sobretudo o sistema de transporte público.
Mas a estrela da semana foi mesmo o setor agrícola. O movimento começou na Alemanha, onde os agricultores paralisaram, com seus tratores, estradas e o acesso a vilas e cidades. Logo ele se alastrou por quase toda a Europa continental, da Polônia à Península Ibérica, com fortes manifestações na França e em Bruxelas, na Bélgica, onde os manifestantes atearam fogueiras diante da sede executiva da União Europeia. Na França os agricultores ameaçaram cercar e isolar Paris. Não chegaram a tanto, mas entre protestos e até prisões de manifestantes, conseguiram mobilizar o governo de Emmanuel Macron, que se comprometeu a lutar contra a aprovação do acordo de livre-comércio com o Mercosul e rever as novas limitações que pretendia impor ao uso de agrotóxicos, o que provocou novos protestos, desta vez dos ecologistas. Além disto, a União Europeia se comprometeu a investir mais algumas centenas de milhões de euros em subsídios ao setor.
Além de se sentirem ameaçados pela temida concorrência com os agricultores do Mercosul, a insatisfação dos europeus têm outros motivos. Dados oficiais dizem que 15% de sua renda vem dos subsídios governamentais e da U. E. para o setor. Os agricultores alegam que tal subsídio vem se mostrando insuficiente para enfrentar a alta da inflação, sobretudo no custo dos combustíveis, principalmente o diesel, e dos fertilizantes, cuja alta deriva de sua relativa escassez graças à guerra na Ucrânia. Protestam também diante do que veem como uma concorrência ameaçadora por parte dos produtos agrícolas deste país, isentos de impostos pela União Europeia como forma de ajudá-lo na guerra com a Rússia.
Outro ponto de desacordo está nas limitações ecológicas que, segundo os agricultores, encarecem demasiadamente seus produtos. O movimento põe em risco as medidas de proteção ao meio-ambiente adotadas dentro da União.
A insatisfação e os protestos ameaçam continuar, apesar das medidas atenuadoras de governos e da União, e se alastrar a outras categorias.
Oficialmente o continente europeu, como um todo, não está em recessão econômica, embora sua principal economia, a alemã, esteja. Mas a crise é um fato inarredável do cotidiano, liderada pelos custos dramaticamente crescentes da energia, dos alimentos, e das despesas com saúde e habitação. No outro lado do Canal da Mancha, no Reino Unido, os protestos no setor da saúde são constantes e a crise econômica ameaça a hegemonia do Partido Conservador, no poder desde 2010.
Politicamente, na Europa Continental nota-se uma tentativa, por parte dos partidos de extrema-direita, como o Rassemblement National na França e o Alternative fúr Deutschland na Alemanha, no sentido de capitalizar a insatisfação e os protestos, sobretudo dos agricultores, vistos como um setor mais conservador do que os trabalhadores urbanos.
Em breve haverá uma possibilidade de medir se terão sucesso ou não, com as eleições para o Parlamento Europeu em junho deste ano.
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