Ilustração: Johnny Brito |
Uma semana depois, continua em lenta fermentação a pergunta sobre o papel de Silas Malafaia na tentativa de rearticulação da extrema direita. Temos um protagonista, um coadjuvante ou daqui a pouco apenas um figurante?
Malafaia seria o Kleber Bambam do bolsonarismo? Bambam vai receber mais de R$ 6 milhões pelos 36 segundos em pé diante de Popó Freitas. Quanto Silas Malafaia merece por ter chamado para a luta o ministro Alexandre de Moraes?
Bambam e Malafaia têm coisas em comum. A primeira é o destemor para enfrentar oponentes que já derrubaram muita gente. Popó venceu Bambam sem esforço porque prefere o nocaute da luta decidida em pouco tempo.
Moraes está boxeando com facções bolsonaristas desde março de 2019, quando da instalação do inquérito das fake news. Já venceu muitas lutas, mas continua na briga. A maior ainda está pela metade.
Enfrenta gente que já foi investigada, denunciada, processada e condenada por sonegação, lavagem de dinheiro e contrabando. Mas que ainda sobrevive à acusação de que é patrocinadora de fábricas de fake news, negacionista e golpista.
Malafaia, sob a proteção de Deus, decidiu desafiar Moraes, no discurso do dia 25 na Avenida Paulista, citando o ministro por 16 vezes e o acusando de ter nas mãos o sangue de um dos presos do 8 de janeiro.
É valente o pastor Malafaia, todo mundo sabe. Tão valente que diz não ter medo de ser preso e que não teme Polícia e Receita Federal. Malafaia só teme Deus, e Deus é seu ajudador, como foi definido na sua fala em cima do trio elétrico.
As diferenças entre Bambam e Malafaia começam pela constatação de que o pastor não precisa de dinheiro. E terminam num aspecto que o desafiador de Moraes deve levar em conta.
Bambam ganhou os R$ 6 milhões e irá desfrutá-lo, porque o custo foi o que se viu, levar bordoadas e cair depois de 36 segundos. Bambam foi pago para apanhar. A luta acabou.
Malafaia pode enfrentar uma luta mais longa, se decidir levar adiante, com a mesma assertividade, a provocação a Alexandre de Moraes. O que poderia ganhar, se for nocauteado?
Perguntam se o sistema de Justiça, e não só Moraes, correria o risco de partir pra cima de Malafaia, sabendo do seu poder como líder de massa de uma igreja.
Mesmo que seja de fato uma dúvida, essa deve ser uma dúvida pequena. Não pode ser uma grande dúvida a que induz a pensar que as instituições não farão nada contra quem tem poder econômico e religioso.
A acusação de que Moraes tem as mãos sujas de sangue poderia render um processo. Mas vale a pena? A outra frente é a que foi especulada pela grande imprensa. Malafaia poderia ser investigado pela Polícia Federal por tentar embaraçar o inquérito que apura a tentativa de golpe.
Há quem considere que o pastor não só financiou o ato na Paulista, mas também disseminou mentiras no discurso para jogar seus fieis contra o Supremo. Poderia ser investigado por incitação contra as instituições que investigam ações criminosas.
Nesse caso, o roteiro é conhecido. Puxam o fio da meada do Malafaia e o fio pode trazer, como aconteceu em outros casos, tudo e todos que estão submersos. Vejam os casos de Anderson Torres e Mauro Cid.
Malafaia deve ficar de sobreaviso. A qualquer momento pode receber a informação de que aceitaram seu desafio, não só contra o ministro citado 16 vezes, mas contra a PF, o Ministério Público e o Judiciário.
Malafaia pode ir preparando as luvas. Que os parceiros o alertem de que pode ser uma luta cansativa, massacrante, longa e muito bem calculada. E que talvez no fim ele não ganhe nada.
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