Vladimir Putin, Praça Vermelha em Moscou, 18/3/24. Foto: Yuri Gripas |
O chamado Ocidente não gostou nada dos resultados das eleições russas.
A grande vitória de Putin, com cerca de 87% dos votos, provocou profundo desagrado e uma inundação de “denúncias” sobre “fraudes” no pleito, “impedimento ilegal de concorrentes”, ambiente “ditatorial”, “intimidação de eleitores” etc.
Enfim, para a maioria dos governos europeus e os EUA, tudo não passou de uma “grande farsa”.
Bom, não foram apresentadas reais evidências empíricas para acusações tão graves, além das alegações de que o governo Putin teria “mandado matar Navalny”, o principal opositor russo, e impedido outras lideranças de participar no pleito.
Entretanto, o que as lideranças ocidentais e a grande mídia do Ocidente não revelam é que Putin, independentemente de quaisquer outras considerações, sempre foi um líder muito popular na Rússia.
Com efeito, segundo o Instituto Levada-Center, muito citado pela mídia ocidental, que faz pesquisas de opinião sistemáticas sobre a política russa, a popularidade de Putin se mantém muito alta, desde o final do século passado.
De acordo com esse instituto, desde agosto de 1999, quando começaram as medições, que a aprovação pessoal de Putin não cai abaixo de 60%.
Os dados desse instituto também comprovam que não foi a guerra na Ucrânia que provocou tal popularidade.
Putin já teve “picos” de popularidade, semelhantes aos de hoje, tanto em 2008 (88% de aprovação), quanto em 2015 (89% de aprovação).
Também não é a primeira vez que Putin tem excelente desempenho eleitoral.
Em 2000, ele foi eleito pela primeira vez com 53,4% dos votos. Em 2004, foi reeleito com 71,9%. Em 2012 foi novamente eleito com 63,6 %. Em 2018, foi reeleito com 76,7%.
Seria razoável supor que, em todas essas ocasiões, teriam ocorrido, como alegam lideranças ocidentais, grandes “farsas eleitorais”? Não parece.
Nada indica, ainda, que, caso Navalny tivesse concorrido, teria havido grande diferença de resultados.
Quando concorreu a prefeito de Moscou, em 2013, Navalny foi massacrado pelo candidato apoiado por Putin, Sergey Sobyanin. Ante o resultado, saiu logo dizendo, sem evidências, que tudo havia sido uma “fraude.” Lembra alguém, não?
Saliente-se que Navalny destacou-se, na cena política russa, com um discurso “anti-imigração”, “anticorrupção”, “antipolítica” etc., e com forte investimento em redes sociais.
Em suma, um típico representante da nova extrema-direita mundial, apoiado pelo Ocidente, em sua constante “guerra híbrida” contra seus adversários.
Na realidade, a oposição a Putin sempre foi fraca e a segunda força política russa continua a ser o Partido Comunista Russo.
Putin, após o período de catástrofe econômica, social, política, geográfica, demográfica e militar da Rússia, ocorrido na década de 1990 e estimulado pelo Ocidente, conseguiu reerguer o país e a autoestima russa. Sua força vem desse fato inegável.
Putin mudou radicalmente a política russa, antes atolada na fragilidade entreguista e patética de gente como Yeltsin.
Com Putin, a Rússia voltou a ser uma potência respeitada.
A pequena oposição concentra-se em parcelas ocidentalizadas das populações de algumas áreas metropolitanas, como Moscou e São Petersburgo. A grande e profunda Rússia é “putinista”. E se tornou ainda mais com a guerra.
O resultado dessa última eleição mostra que o país está unido contra as ameaças externas.
Goste-se ou não de Putin, o fato é que ele está mais forte que nunca. Farsa é achar que ele está enfraquecido.
Quem não está indo muito bem, nesse aspecto, é Zelensky, cuja popularidade caiu de 84%, em dezembro de 2022, para 62%, no início deste ano. Sua gestão desastrada do conflito o está desgastando, interna e externamente.
Felizmente, para ele, como a Ucrânia está sob lei marcial, não há mais eleições, não há imprensa livre e os 11 partidos políticos de oposição foram fechados.
Mas o “autocrata” é o Putin.
* Marcelo Zero é sociólogo e especialista em Relações Internacionais.
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