segunda-feira, 29 de abril de 2024

A desculpa esfarrapada do X de Elon Musk

Charge: Kelsey Dake
Por Altamiro Borges


Em ofício enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira (26), a plataforma X apresentou uma desculpa bem esfarrapada para justificar a liberação de perfis de investigados pela Justiça. Segundo a empresa ianque, “os indivíduos [os criminosos], após terem suas contas bloqueadas, adotaram diferentes estratégias para desafiar a ordem de bloqueio e as regras da plataforma, por meio da criação de novas contas e da exploração de vulnerabilidades sistêmicas para perpetuar as suas atividades”. Haja cinismo!

Na semana retrasada, o bilionário excêntrico Elon Musk havia anunciado que sua empresa desrespeitaria decisões judiciais e desbloquearia as contas de vários investigados por atos golpistas contra a democracia brasileira e pela difusão de fake news. Diante da provocação, o ministro Alexandre de Moraes deu prazo de cinco dias para que o X se manifestasse sobre o anunciado descumprimento das decisões judiciais. Agora, a megacorporação afirma que houve apenas “vulnerabilidades sistêmicas” e que é inocente e pura!

Relatório da PF desmente o bilionário arrogante

No ofício, a plataforma ainda jura que “não desbloqueou contas e/ou [permitiu] a retomada de conteúdos na plataforma da rede social X objeto de decisões judiciais de bloqueio”. Ela também garante que os perfis bloqueados só ficaram visíveis após “uma falha técnica temporária, isolada e imprevisível a depender do modo de acesso... Essa falha, embora tenha permitido o acesso limitado a elementos não essenciais das contas via aplicativo móvel, foi pontual e não representa uma violação das ordens judiciais do STF e TSE”.

A desculpa se contrapõe ao relatório da Polícia Federal anexado ao inquérito das milícias digitais do STF. De acordo com as investigações da PF, as transmissões ocorreram dias após o dono do X desafiar na própria rede digital a Justiça brasileira e postar ataques ao ministro Alexandre de Moraes. A ação de desbloqueio teria sido premeditada e organizada. O relatório cita vários investigados protegidos pela plataforma, como Allan dos Santos, Rodrigo Constantino, Paulo Figueiredo Filho e o senador Marcos do Val (Podemos-ES).

Robôs impulsionam mentiras de Musk

Segundo matéria do jornal Estadão, os ataques às leis e à Justiça brasileira inclusive foram impulsionados. “O Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicou um levantamento sobre o embate entre o empresário Elon Musk e o ministro Alexandre de Moraes no X. Analisando as publicações, os pesquisadores identificaram que quase metade (47,9%) dos perfis que endossaram os argumentos de Musk, responsáveis por 53,7% dos compartilhamentos analisados, foram classificados como inautênticos – popularmente conhecidos como bots ou robôs”.

A pesquisa identificou e analisou 90,6 mil postagens, publicadas entre os dias 8 e 9 de abril. Elas partiram de 39 mil contas que postaram conteúdos em inglês e 30,5 mil em português. Os pesquisadores concluíram que 40,7% dos posts em inglês foram a partir de contas inautênticas, enquanto nos perfis em português essa taxa foi de 33,4%. “No grupo que endossa o discurso de Elon Musk, entre os usuários reais, ganham destaque os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG) e Marcel Van Hatten (Novo-RS) e o influenciador Paulo Figueiredo, neto do ex-presidente João Figueiredo, último a governar o país na ditadura militar”.

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