PMs na Universal. Reprodução da internet |
O site UOL revelou na semana passada que “o policial militar Marco Aurélio Bellorio, de 43 anos, entrou com um processo na Justiça dizendo ter sido obrigado a participar de reuniões da corporação em um templo da Igreja Universal do Reino de Deus [Iurd] em São Paulo. Bellorio, que é católico, afirmou à Justiça que a obrigatoriedade fere a sua liberdade de crença e que a medida configura abuso de poder. Disse que, pelo fato de não ter comparecido a uma das reuniões, passou a ser alvo de um procedimento administrativo”.
Em decorrência da perseguição, o soldado da PM solicitou que o Estado seja condenado a lhe pagar uma indenização por danos morais. “O governo paulista respondeu no processo que as reuniões na Igreja Universal não são de caráter religioso, mas relativas a assuntos militares. Afirmou que o templo é utilizado em razão da necessidade de um espaço que comporte reuniões com grande número de pessoas”, registra a reportagem.
20 mil pastores para doutrinar policiais
A desculpa esfarrapada do governador Tarcísio de Freitas, porém, não convence ninguém. As reuniões da PM paulista em templos da Iurd ocorrem desde a gestão do tucano João Dória, mas cresceram no governo atual. A alegação de ausência de espaço público e de que os encontros não têm caráter religioso desafia a inteligência até dos bolsonaristas mais otários. Em junho do ano passado, o jornalista Chico Alves denunciou, também no site UOL, que a “Universal usa 20 mil pastores e obreiros para doutrinar polícias do Brasil”.
A reportagem teve acesso exclusivo a um áudio em que o pastor Roni Negreiros, responsável pelo programa Universal nas Forças Policiais (UFP), detalha a estratégia invasiva usada pela igreja do “bispo” Edir Macedo. “O religioso explicou que a UFP é um programa de ‘assistência espiritual, social e valorativo’ para trabalhar com todo o sistema de segurança do país. ‘Forças Armadas, órgãos de Justiça, órgãos de segurança pública’”.
“Eu tenho hoje 20 mil pessoas me ajudando, entre bispos, pastores, obreiros, servindo vocês”, jactou-se o líder da UFP. “Ele garantiu que para esse fim ‘todos os templos da Universal estão cedidos no Brasil’. A iniciativa também tem âmbito internacional e é posta em prática nos países em que a Igreja Universal está instalada: África do Sul, Portugal, Estados Unidos, México e Argentina”.
A desculpa esfarrapada do governo Tarcísio de Freitas
Chico Alves registra no UOL que “a ofensiva da Universal para disseminar os seus valores nas forças policiais foi revelada em maio pelos jornalistas Gilberto Nascimento e Tatiana Dias, no site The Intercept. Na quinta-feira (22/06/23), a coluna noticiou reunião de 700 PMs de São Paulo no templo da Universal da avenida Brigadeiro Luís Antonio... A frequência e a capilarização dos encontros impressionam”.
Após o site revelar esse encontro no templo da Iurd, o deputado estadual Paulo Reis (PT) pediu explicações ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). A assessoria da PM comunicou cinicamente que o evento visou anunciar promoções e homenagens a soldados e que foi realizado naquele espaço por comportar grande número de pessoas. Já a Igreja Universal confessou em sua conta de Instagram que a reunião faz parte do programa UFP e teve a presença de um pastor, que prestou “assistência espiritual” à tropa da PM.
No requerimento encaminhado ao governador, o deputado petista solicitou informações sobre a quantidade de policiais que participaram de cinco eventos realizados em templos da Iurd no período, o tempo de duração das reuniões, quantas viaturas foram usadas para esse fim, se houve liturgia religiosa, se existe acordo entre a corporação e a denominação religiosa, se existe algo similar com outras religiões e se o comparecimento dos soldados foi obrigatório.
As denúncias e o requerimento, porém, não inibiram o governador bolsonarista, que segue com acordos sinistros com vários mercadores da fé. Como bajulou recentemente o “apóstolo” Estevam Hernandes, chefão da Igreja Renascer em Cristo, Tarcísio de Freitas “tá pregando melhor que muito pastor”.
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