Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Uma parceria entre o Ministério de Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) realizou uma premiação inédita a projetos de destaque nas periferias brasileiras: o Cidadania na Periferia. Os 120 contemplados dividirão uma bonificação de R$ 6 milhões (R$ 50 mil para cada iniciativa) – dentre elas, estão expoentes das mídias pretas e periféricas brasileiras, como o Jornal Empoderado, o Desenrola e Não Me Enrola e o Nós, Mulheres da Periferia (veja a lista completa aqui).
Segundo o MDHC, o prêmio tem o objetivo de ´”potencializar, reconhecer, valorizar e premiar projetos protagonizados pela população periférica, que contribuem para a efetividade dos direitos humanos e da cidadania nos seus territórios”. A iniciativa surgiu a partir das escutas realizadas pelo ministro Silvio Almeida em periferias brasileiras e da interlocução com parceiros que atuam junto à população periférica. A premiação visou seis eixos de atuação: Comunicação comunitária e educação popular dos Direitos Humanos; Cidadania LGBTQIA+; Acessibilidade e participação social de pessoas com deficiência; Proteção integral de crianças e adolescentes; Educação para toda vida: iniciativas baseadas na educação popular para pessoas idosas; Soluções comunitárias para segurança alimentar e alimentação saudável
O jornalista Anderson Moraes, de São Paulo, lançou o Jornal Empoderado em 2016, na sede do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Atualmente, Moraes é um dos coordenadores da entidade, desenvolvendo um trabalho incansável em prol das mídias alternativas periféricas e comunicadores pretos e pretas. Segundo ele, a premiação mostra que competência e talento sobram, o que falta é investimento.
“Esse prêmio mostra que temos um grande ativo de jornalistas e midiativistas pretos e pretas, que cobrem favelas, quilombos e aldeias com grande capacidade profissional. Se falta algo, é reconhecimento e investimento para conseguirmos nos estruturar”, destaca. “O importante prêmio é um passo importante nesse reconhecimento que tanto precisamos, algo que agradecemos muito ao ministro Silvio Almeida, sua equipe do MDHC e, claro, à Secom”.
Conforme explica o fundador do Jornal Empoderado, sobreviver com pouca estrutura, à margem da mídia privada dominante e, muitas vezes, do próprio conjunto das mídias progressistas, não é fácil. Qual a receita? Ele recorre aos Racionais MC’s para responder: “Como os Racionais cantam em uma de suas letras: ‘1) por amor, 2) por dinheiro, 3) pela África, e 4) pros parceiros…/Que estão na guerra sem medo de errar…/Quem quiser falar, só Deus pode julgar‘. O Anderson e a equipe fazem jornalismo por amor, para ajudar os seus e as suas com visibilidade, com informação de qualidade, para manter nossa raiz viva”.
Tudo isso precisa de investimento, de políticas públicas que deem condições materiais ao trabalho, pontua Moraes. “Fazemos um jornalismo de território que muitas mídias, mesmo progressistas, não fazem. Então, nada mais justo que podermos nos estruturar para continuar e ampliar esse trabalho tão importante e necessário para as comunidades periféricas do país”.
A estrutura do Jornal Empoderado é enxuta, mas orgulha seu fundador pois deixou de ser “um exército de um homem só” que dependia de colaboradores pontuais. “Hoje, somos uma equipe que conta com cerca de 20 pessoas e nos organizamos como as circunstâncias permitem. Temos uma fotógrafa, a Ina Henrique; a Marcela Jesus, que cuida das redes; a Victória Cavalcante, que faz as artes, o Victor Silva, que cuida do site; Dra. Izabel, da assistência jurídica; a Contabilidade Torres; e muita gente boa que colabora no site e parcerias como AJOR, Território da Notícia, entidades do movimento social e do movimento negro, além do Barão de Itararé, que cedeu sua sede para o nascimento do Jornal”.
O time citado por Moraes mostra como um veículo é feito de gente, o que demanda recursos para dar condições de trabalho e garantir remuneração aos profissionais. “Nos mantemos com muita luta e apoio de parceiros que aparecem durante a nossa história. Lembro que quando ainda tínhamos nossa edição impressa (há mais de seis anos), tivemos um parceiro que anunciava em nossas páginas por R$50,00. Eu ficava muito feliz com isso, mas a equipe cresceu e hoje precisamos adequar à nova realidade”, pontua. “Por isso, agradeço a ajuda que recebemos, em forma de publicidade, da Prefeitura de Maricá, do Sindicatos dos Bancários de São Paulo, na figura de sua presidenta Neiva Ribeiro, além de um projeto organizado pelo querido Carlos Tibúrcio, coordenador do Barão de Itararé, que sistematiza a divisão de recursos entre mídias alternativas diversas”.
Na avaliação de Moraes, as mídias pretas, periféricas, indígenas e comunitárias precisam ser a bola da vez. “No próximo Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais e em todos os eventos da agenda de luta pela democratização da comunicação, devemos pensar uma ‘ocupação’ de jovens e mídias negras, periféricas, gente e veículos que atuam, de fato, nos territórios. Precisamos aliar essas vivências reais à ajuda governamental e por parte de entidades de mídia para discutirmos amplamente como financiar um jornalismo diverso e plural”, frisa. “Avançamos, mas precisamos de muito mais e queremos muito mais. Uma nova Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em Brasília já seria um pontapé inicial para essa ação coletiva de quem quer e está transformando a comunicação na prática. Reitero a gratidão eterna por todo mundo que acredita no trabalho feito pelo Jornal Empoderado, mas que seja só o começo”.
Na avaliação de Moraes, as mídias pretas, periféricas, indígenas e comunitárias precisam ser a bola da vez. “No próximo Encontro Nacional de Comunicadores e Ativistas Digitais e em todos os eventos da agenda de luta pela democratização da comunicação, devemos pensar uma ‘ocupação’ de jovens e mídias negras, periféricas, gente e veículos que atuam, de fato, nos territórios. Precisamos aliar essas vivências reais à ajuda governamental e por parte de entidades de mídia para discutirmos amplamente como financiar um jornalismo diverso e plural”, frisa. “Avançamos, mas precisamos de muito mais e queremos muito mais. Uma nova Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em Brasília já seria um pontapé inicial para essa ação coletiva de quem quer e está transformando a comunicação na prática. Reitero a gratidão eterna por todo mundo que acredita no trabalho feito pelo Jornal Empoderado, mas que seja só o começo”.
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