Ilustração do site Le Monde Diplomatique |
O governo Netanyahu faz o que bem entende.
Ignora totalmente as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, as decisões da Corte Internacional de Justiça, os inúmeros protestos da comunidade internacional etc.
Debochando da ONU e das instituições multilaterais, o governo Netanyahu declarou o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, “persona non grata”. Guterres está em boa companhia, contudo.
O único país que teria condições objetivas de mitigar o comportamento agressivo e ilegal do governo Netanyahu, que ameaça colocar fogo em todo o Oriente Médio, são os EUA.
Entretanto, apesar de algumas queixas formais, os EUA estão dando, na prática, apoio às barbáries que o governo Netanyahu comete, em nome do “direito à defesa”.
Embora Biden declare que quer evitar a escalada do conflito no Oriente Médio, não move uma única palha concreta para evitá-la. Na hora da decisão, o apoio praticamente incondicional a Israel sempre fala mais forte.
Na realidade, tanto o governo de Netanyahu quando a maior parte dos neocons incrustada no Deep State enxergam a atual conjuntura como uma “janela de oportunidade” para desferir um grande golpe contra o “eixo da resistência do Irã”.
Paradoxalmente, tal vem se dando mesmo depois de meses de esforços sérios do Irã para alcançar melhores relações com os EUA.
Como se sabe, em 20 de maio de 2024, o então presidente do Irã, Ebrahim Raisi, um conservador, morreu em um acidente de helicóptero.
Em novas eleições, o Irã elegeu Masoud Pezeshkian, um moderado que, desde o início, defendeu a normalização das relações Irã/EUA, com a finalidade básica de mitigar as pesadas sanções que esse país impõe ao Irã, principalmente em razão do programa nuclear iraniano.
Percebendo essa movimentação, o governo Netanyahu fez de tudo para sabotar esses esforços.
Primeiro, houve o bombardeio da Embaixada do Irã em Damasco, ao qual o governo iraniano respondeu com um ataque “coreografado”, que não causou dano algum a Israel.
Depois, em 30 de julho, Ismail Haniyeh, o líder político do Hamas, foi assassinado junto com seu guarda-costas pessoal na capital iraniana. Haniyeh foi morto em uma casa de hóspedes administrada por militares, após participar da cerimônia de posse do presidente iraniano Pezeshkian.
O assassinato de Haniyeh foi, obviamente, uma grande ofensa contra a soberania da República Islâmica do Irã. Também foi uma ofensa pessoal contra a presidência de Masoud Pezeshkian.
Na época, o Líder Supremo do Irã, Aiatolá Khamenei, e a liderança da Guarda Revolucionária Iraniana (IRGC) pensaram numa retaliação. Mas o novo presidente a evitou. Masoud Pezeshkian ainda esperava que os EUA conseguissem um cessar-fogo em Gaza, e queria evitar que o Irã fosse culpado pelo fracasso dessas negociações.
O presidente Pezeshkian continuou seu curso moderado. Em 23 de setembro, durante sua participação na Assembleia Geral da ONU em Nova York, ele novamente fez sondagens sobre uma nova negociação com os EUA, em relação ao programa nuclear do Irã. Tudo isso, mesmo após o ataque dos pagers, no Líbano
Em vão.
O assassinato de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, os pesados bombardeios no Líbano e o início das incursões terrestres impuseram uma resposta mais dura do Irã, o que gera o pretexto para que o governo Netanyahu, com o beneplácito dos EUA, tente desferir um “grande golpe estratégico” contra o Irã, país que Israel e o Deep State enxergam como a grande fonte de “instabilidade” no Oriente Médio.
Muito provavelmente, o golpe vira sob a forma de pesados bombardeios contra instalações do programa nuclear iraniano. E também de instalações petrolíferas. Biden, um “pato manco” se manifestou contrariamente. Pouco importa.
É praticamente certo que esse golpe virá. Também é praticamente certo, pelo andar da macabra carruagem, que o Líbano, ou boa parte dele, se torne uma grande ruína, assim como Gaza.
O Libano se banhará com o sangue dos inocentes, inclusive de brasileiros.
Hillary Clinton, Victoria Nuland, Jack Sullivan, entre muitos outros, sempre viram o Irã como o país que precisa ser destruído para que a “paz” se imponha no Oriente Médio.
É loucura delirante. Mas, quando a guerra começa, há pouco cálculo e muito sangue. E nenhuma piedade e sabedoria,
Só se salvam as “personas non gratas”.
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