Ontem, a Advocacia Geral da União (AGU) abriu investigações sobre um grupo de operadores que espalharam mensagens falsas de Gabriel Galípolo pela plataforma X. Foi o primeiro movimento destinado a atacar o cartel da Faria Lima, embora em cima de sua manifestação mais grosseira.
É a parte mais barulhenta – e chata – do microcosmo do mercado, operadores que se comportam como participantes de Olimpíadas universitárias. São tão chatos quanto qualquer torcida organizada. Gritam, agridem, dizem besteiras – como a de que é impossível corrida contra o real em sistema de câmbio flexível -, mas são apenas chatos.
A parte perigosa é mais sutil, valeu-se do presidente do Banco Central Roberto Campos Neto para manifestações terroristas sobre a questão fiscal, criando um terrorismo fiscal sem precedentes.
O instrumento maior desta loucura é o sistema de Metas Inflacionárias que literalmente jogou o controle da moeda para o mercado, com o Banco Central indo a reboque. O BC deixou de ser autoridade monetária e passou a convalidar o jogo de expectativas do mercado.
Primeiro, extirparam todos os instrumentos macroprudenciais de combate à inflação, como estoques reguladores, administração de preços regulados. Gradativamente, todos os setores regulados passaram a ser apropriados pelas empresas reguladas – enquanto o mercado avançava em todos esses campos, adquirindo as principais empresas.
Depois, um trabalho de liberalização ampla do capital, permitindo contas em dólares para pessoas físicas, retenção de dólares por exportadores, controle da mídia pelo mercado, tornando as moedas nacionais cada vez mais suscetíveis aos movimentos especulativos internos e aos movimentos internacionais do dólar.
Finalmente, a imposição de limites férreos aos gastos públicos, com o teto de gastos.
Assumindo um país destroçado, sem controle sobre o Congresso, o governo Lula supôs ser possível enfrentar o mercado dentro das regras de jogo criadas para o mercado. Substituiu o teto pelo arcabouço, ganhou algum fôlego fiscal na negociação especial do orçamento até entrar em corner na última semana.
Meio ponto de inflação acima da meta, 0,25 de estouro da meta fiscal, provocaram terremotos desproporcionais, sem precedentes, graças à manipulação, pelo cartel, da opinião pública através da mídia convencional e do esquema de veículos ligados ao mercado financeiro.
Agora, tem-se a maior batalha a ser enfrentada.
Através do controle da política monetária, o cartel avança sobre as principais políticas públicas.
Primeiro, foi o movimento que explodiu o dólar nas últimas semanas, alimentado por declarações sucessivas de Roberto Campos Neto em relação ao quadro fiscal.
Já se sabia que, mais cedo ou mais tarde, as medidas anunciadas pelo governo Trump transformariam os Estados Unidos em um sorvedouro de dólares. Alíquotas de importação manteriam a inflação em níveis considerados elevados, levariam o FED a aumentar as taxas de juros, atraindo dólares de todos os cantos. O mercado sempre antecipa movimentos.
Ontem, o presidente do Fed, Jerome H. Powell, fez um balanço otimista: “A economia dos EUA tem sido simplesmente notável”, graças a um conjunto de medidas tomadas pela administração Biden. As vendas estão robustas, os preços das ações subindo, o investimento doméstico na produção de chips deu novo ânimo à economia norte-americana.
Mas, e pelo “mas” entra o mercado, houve uma gripe aviária que aumentou os preços dos ovos e há as ameaças de aumento de tarifas de importação pela administração Trump.
Foi o que bastou para o Fed diminuir o ritmo de queda dos juros para 4,4%, menos que os 5,3% de três meses atrás, mas ainda mais alto do que em qualquer outro momento do governo Trump 1, e provocar um terremoto nos ativos norte-americanos.
O índice S&P 500 caiu quase 3%. O índice Dow Jones caiu pelo 10º dia consecutivo, a maior sequência de quedas desde outubro de 1974.
Em cima do terrorismo alimentado pelo mercado brasileiro, veio o terrorismo criado pelas indecisões do FED. Bastou isso para o dólar explodir no país, deixando o governo de joelhos.
Agora, tem-se o seguinte jogo:
1- O cartel criou o movimento inicial de desestabilização, com o terrorismo fiscal. Montou a primeira onda que foi sendo alimentada com manchetes terroristas dos jornais.
2- O Banco Central reagiu, elevando a Selic em um ponto, e definindo previamente mais dois pontos de alta para o próximo semestre.
3- As discussões sobre o tal ajuste fiscal mudam de patamar. Não se discute mais ou menos 0,25 ponto. Taxas de juros real de 10% tornam o fiscal literalmente inviável. Ai vem o terrorismo da tal “dominância fiscal”, o momento em que a receita fiscal não pode dar mais conta do custo dos juros.
No início dos anos 80 o mundo experimentou o choque de juros dos Estados Unidos, literalmente quebrando o Brasil.
Hoje o país tem uma situação econômica muito mais confortável, com reservas cambiais robustas. Mas com vulnerabilidades políticas.
A explosão do dólar é apenas o instrumento de chantagem do cartel. Nos próximos dias, o rei do Brasil, André Esteves, se reunirá com seu principal agente político, Arthur Lira, para impor suas condições. Só assim, o cartel reduzirá sua pressão
O país assistirá de joelhos sua vitória enquanto a mídia continuará nesse baile louco de enaltecer as loucuras de Milei na Argentina.
Todos esses movimentos tornarão o sistema de Metas Inflacionárias gradativamente inviável. A globalização financeira será desmontada, antes que desmonte as economias nacionais.
Resta saber quanto tempo levará para o Banco Central e as autoridades monetárias brasileiras acordarem para o novo mundo que vem pela frente.
Como preparativo, seria interessante que a AGU e a Polícia Federal convidassem para vir ao Brasil os investigadores britânicos que desmontaram o cartel da Libor. As autoridades precisarão aprender como tratar crimes financeiros sofisticados.
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